VIVER NO DIREITO OU NO AVESSO POR MANOEL THOMAZ CARNEIRO

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La femme qui pleur de Pablo Picasso ( 1932 )

 “Outro dia após termos assistido o espetáculo “Elis – O Musical”, uma amiga me falou: “Acho que ela era insatisfeita. Tinha tudo e vivia como se não tivesse conseguido realizar o que tanto queria. Se tornou a maior cantora do Brasil. Por que tão instável? Por que por vezes era tão ofensiva?”.

Na hora pensei num casal, que passeava pela orla num feriado e que num momento o homem apontou para o asfalto e disse a mulher num tom indignado: “Olha esses buracos. Na foto tudo parece impecável… mas de perto temos essas coisas!!!”.

Lembro-me da mãe de um amigo que quando falávamos que as aparências enganam, ela nos dizia: “Tem pessoas que são assim mesmo, por cima tró ló ló, por baixo um farrapo só”.

É verdade, quando o sonho ainda está na condição do imaginário, tudo parece impecável, mas quando se concretiza traz a proximidade com o avesso da realidade.

As proximidades com as coisas e com as pessoas permitem a visão que na superfície lisa da realidade encontramos as cavidades nela contidas.

Podemos dizer que:

De perto ninguém é normal!

Todos têm cavidades. Todas as pessoas contem em si mazelas.

Os filmes de Woody Allen retratam muito bem esses nossos paradoxos. O último, que se chama Blue Jasmine, para mim tem a genialidade de falar com clareza sobre uma pessoa no direito e no avesso dela.

O personagem Blue Jasmine traça no fundo a história de uma mulher que tropeçou nos próprios tropeços… Fala daquela que ficou sem saber se defender de si, da que reagiu aos acontecimentos a partir dos buracos e dos próprios avessos. Perspectivou-se e, portanto agiu através do lado mais comprometido dela própria.

Quantas pessoas vivem através dos piores aspectos de si.

Deixam de viver direito porque vivem apenas as situações a partir dos traços comprometidos da personalidade. Pensam as situações de modo errado e com isso concluem igualmente errado… O resultado desse aspecto? Tornam-se Blue Jasmine.

Jasmine, interpretada pela atriz Cate Blanchett, faz uma sucessão das piores escolhas. Decide uma vingança ao pedido de divórcio do marido, e o denuncia ao FBI e com isso coloca tudo a perder, além da estrutura financeira, perde a credibilidade…

Sem saber se conduzir com inteligência se retira da vida ponderada e se inclui na sideração. Acaba sentada numa praça falando com um mundo inexistente. Exclui-se das chances de recomeço que surgiram diante dela depois da decadência, por viver tudo num contexto de inseguranças, preconceitos e mentiras. Boicotou o bom futuro através dos próprios comprometimentos.

De perto nós temos em nosso interior uma Blue Jasmine, inadaptada a viver a vida, incapaz de fazer escolhas inteligentes e de se perspectivar através de sentimentos refletidos.

De perto temos os nossos perigos em si… Carregamos tendências que não nos conduzem a vida boa.

A questão está apenas na proporção de nossos avessos.

Uma orla tem areia, calçadão, mas contem os avessos nos buracos do asfalto.

Um país desenvolvido tem contido algumas dificuldades sociais e econômicas, tem a corrupção, mas o que o caracteriza como evoluído se define pela proporção. O bom é muito maior do que o ruim.

O desequibilrio
O desequibilrio

Alguns brasileiros gostam de falar que Paris tem assaltos, mendigos e se sentem aliviados de algum modo com esta constatação e com isso normalizam o que se encontra aqui.

A questão do equilíbrio de tudo está na proporção. Encontramos no mundo inteiro o avesso das boas realidades, mas se o farrapo se tornou extremamente visível, a proporção perdeu a boa medida.

Por quê? Houve displicência de algum modo com aquilo que deveria ser considerado prioritário no foco da atenção.

Um buraco na avenida não é o problema, a questão é se a avenida é esburacada.

Um político corrupto representa o avesso, a questão é se a proporção perfaz a política corrupta.

Um momento de reação Pimentinha Elis, explosiva, igualmente não é o problema a questão é se tornar uma Pimenta Ardida demais.

Blue Jasmine vestia cinto Chanel e bolero Dior, carregava as bagagens em malas Vuitton, mas faltou preenche-las com bom senso, profundidade e inteligência emocional… Faltou se fazer elegante nos pensamentos, através das reflexões que dariam a ela uma boa continuidade.

Blue Jasmine viveu através dos avessos de si e com isso perdeu a chance de viver direito.

No musical Elis tem uma cena muito marcante, quando se descobre que o filho Marcelo tem alergia a lactose e o médico diz que as chances dele sobreviver a aquele dia eram mínimas. Ali a proporção da alergia era maior do que a capacidade de sobreviver a ela. Elis, diante desse momento limítrofe da vida, se pergunta o que poderia fazer pelo filho se não era médica. Decidiu que iria coloca-lo no colo e passou a noite inteira cantando para ele. Na manhã seguinte o médico chegou para ela e disse: “Sua voz salvou seu filho”.

O amor sob a forma de acolhimento e canto o salvou. A proporção da saúde então ganhou domínio.

Penso que devemos fazer assim com tudo que está comprometido em nossas vidas.

Pegar a casa com carinho e colocar no colo e cuidá-la. Colocar no colo as relações afetivas, o trabalho e a própria vida.

Penso também que devemos sempre prestar atenção ao tamanho de nossos comprometimentos psicológicos.

Sabemos que de perto ninguém é normal, mas isso está longe de ser uma desculpa para abandonar a “Atenção Reflexiva” sobre as próprias tendências boicotadoras.

Ponha no colo esta ideia.

Cante sua existência para que os avessos se curem direito.

Viva direito apesar dos avessos.

Assim vamos inventando em nós o que precisamos para prosseguir.

Há uma música que Elis gravou do Milton Nascimento e Ronaldo bastos que diz:

http://www.youtube.com/watch?v=YL-TSspMl1o

Pra quem quer se soltar

Invento o cais…

Invento lua nova a clarear

Invento o amor…

Eu queria ser feliz

Invento o mar

Invento em mim, o sonhador

Para quem quiser me seguir

Eu quero mais

Tenho o caminho do que sempre quis…”

Sabendo-se o que se quer, aprende-se a fazer direito apesar dos avessos…

O novo ano se aproxima.

Invente direito o bom caminho do que você sempre quis. Invente direito a pessoa em si apta a caminhar direito nos avessos.

Invente um cais e seja um saveiro pronto para partir….”

Manoel Thomaz Carneiro

 Sempre que acabo de ler umas destas fantásticas crônicas de Manoel me sinto engrandecida, sinto que aprendi algo com suas experiências. Manoel nos dá uma visão suplementar daquilo que vemos na realidade, Manoel tem o dom de saber olhar a vida de um jeito que adoro e que me ensina cada dia a ser melhor.

Obrigada querido Manoel por mais um ano de alegria e de crescimento interior, obrigada por saber dividir com todas as sua alunas sua sabedoria e seu conhecimento, esta é sua forma de ser generoso e de se dar sempre, compartilhando seus sonhos e multiplicando seus alunos…Vamos morrer de saudades suas durante estas suas longas férias…ainda bem que de Paris vai nos mandar algumas crônicas maravilhosas! Que Deus te abençoe e proteja sempre…

MP

Esta semana poderemos matar as saudades de Manoel assistindo e participando de um debate no Talk of Town sobre seu espetacular livro.

pense bem (2)

informações:

Talk of the Town é um centro de Debates de assuntos contemporâneos cuja intenção é fazer o aluno falar Inglês, expressar suas ideias, enquanto cresce intelectualmente e troca informações com gente interessante.

Nos dias 4/12 (3ª feira às 14.30hs) e 12/12 (5ª feira às 16.30hs)  as alunas do professor Manoel Thomaz Carneiro estão convidadas para um debate em inglês no Talk of the Town.  O debate nesses dois dias será sobre o livro escrito por ele, Pense Bem – ideias para reinventar a vida. Será gratuito, para pessoas com nível de inglês intermediário e avançado, interessadas em conhecer o método do Talk of the Town.

Pedimos que a presença seja confirmada por telefone 2227-4067/ 98879-7689 ou email contato@talkofthetown.com.br. As vagas são limitadas!!!

Endereço: Edificio Forum de Ipanema , Rua Visconde de Pirajá 351 sala 1002.

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