Cultura

QUAL FOI A PRIMEIRA LÍNGUA DA HUMANIDADE? POR DEONÍSIO DA SILVA

 

languages

Vivendo e aprendendo sempre! Hoje temos mais um super interessante texto do Professor Deonísio da Silva!

Não percam, amei!

AC

 

Hebrew-Alphabet
Hebraico

 

Deonísio da Silva º

A primeira língua que os homens falaram, segundo intelectuais outrora muito respeitados, surgiu na famosa semana de outubro do ano de 3.761 a.C., quando o Criador fizera o mundo em seis dias, contados de domingo a sexta-feira. No sábado, antes de descansar, Ele dera uma língua a Adão e Eva. E esta tinha sido o hebraico.

A Bíblia diz que toda a Humanidade falava uma só língua até o episódio da Torre de Babel, construída onde hoje é o Iraque, a 80 km de Bagdá. Babel quer dizer confusão em hebraico. Sumérios, assírios e babilônicos chamavam zigurate a esse monumento, e o designaram por Marduk e Etemenanki. A arqueologia atesta que foi construído por Hamurabi, o do primeiro código de Direito, e reforçado por Nabucodonossor.

 

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A Torre de Babel por Pieter Bruegel

 

 

O português Pedro Rattes Henequim escreveu em a Divina Linguagem que Deus criara o mundo em Português. Disse também que o Paraíso ficava no Brasil e que os primeiros navegantes viram os rastros de Adão e Eva na praia, que estavam na areia desde o dia em que dali foram expulsos pelas forças comandadas pelo Arcanjo São Miguel. Só faltou encontrar o couro da enorme Serpente com a qual Satanás se disfarçou para tentar o casal, pois de tempos em tempos as cobras trocam a pele.

 

arcanjos

Miguel já expulsara o ex-anjo Lúcifer (Heilel, em hebraico), que se juntara a Lilith, a primeira mulher de Adão, numa coligação contra Deus.

Os nomes dos anjos terminam em “el”. A partícula indica que eles estão junto a “El”, o étimo de Deus, conhecido pelo famoso tetragrama YHVH, que se pronuncia Jeová, mas que com essas letras hoje ia parecer nome de vírus.

A partícula “el” está presente também em Eloi, Eloim e Eloá, e em nomes próprios como Manuel, com suas variantes Manoel, Emmanuel, e os femininos Manuela e Emanuele. Está também na arrogante saudação que os reis católicos exigiram para si mesmos, El Rey.

 

selo dos arcanjos

 

Esclareço que São Miguel, São Rafael e São Gabriel não são anjos soldados rasos, são arcanjos, isto é, comandantes. Rafael matou os primogênitos egípcios. E Gabriel levou a mensagem – anjo quer dizer mensageiro em grego – a Maria, anunciando que ela estava grávida do Menino Jesus.

O faraó egípcio Samético I, que reinou no século VI a.C., ordenou a um pastor que criasse isolados dois bebês recém-nascidos e anotasse as primeiras palavras dessas crianças. Ambos pronunciaram Becos, pão em língua frígia. Desde tempos imemoriais, todas as crianças do mundo pronunciam como primeira palavra algo que começa com “m”, de mãe e de mamar, som do início de palavras equivalentes em centenas de línguas.

 

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Sir William Jones

Em 1783, sir William Jones foi viver em Calcutá, na Índia, para trabalhar como juiz do Tribunal Superior da Companhia Britânica das Índias Orientais. Culto, notou que o sânscrito era muito parecido com o latim e com o grego. Hoje sabemos, graças a suas pesquisas, que houve uma raiz comum para todas as línguas indo-europeias, um universo expressivo nas mais de 6.000 línguas ainda existentes no mundo.

Mas a primeira língua da Humanidade ainda é um mistério.

 

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Seja o que for, nosso muito obrigada ao Professor Deonísio em todas as atuais línguas!

 

 

Deonísio da Silva para o 40 FOREVER

º Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

 

AC

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O PAPA FALOU BEM E NÃO CHATEOU NINGUÉM, por DEONISIO DA SILVA

 

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Infelizmente eu estava fora durante a visita do Santo Padre, o Papa Francisco (que fofo!!!!), ao Brasil. Chegando, só ouvi elogios, de todos- católicos, judeus, evangélicos. Ele é uma unanimidade e uma benção, aleluia!

O Professor Deonísio da Silva, hoje na volta das nossas férias, nos brinda com mais um artigo, desta vez sobre a visita do Papa e as palavras por ele escolhidas para falar aqui!

AC

 

O PAPA FALOU BEM E NÃO CHATEOU NINGUÉM

Deonísio da Silva º

Os padres letrados José de Anchieta e Manoel da Nóbrega eram jesuítas e aprenderam o Tupi-guarani para falar com os índios. O Papa Francisco, que também é jesuíta, aprendeu Português para falar com os brasileiros.

Entre tantas lições, o Papa mostrou que não é preciso baixar o nível para se aproximar do povo. Basta escolher as palavras adequadas ao contexto. Por exemplo, preferiu o popular botar, em vez de pôr, colocar. Em seu primeiro discurso, disse: “Cristo bota fé nos jovens, e os jovens botam fé em Cristo”.

Na quinta-feira, falando a mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana, recomendou: “Bote fé, bote esperança, bote amor”.

O Sumo Pontífice, que é poliglota, vem usando muitas gírias em suas falas, entrevistas e homilias na Jornada Mundial da Juventude.

 

Papa-Francisco

Seu bom humor também já era esperado. No mês passado, comentando as semelhanças entre o Português e o Espanhol, disse de brincadeira: “o Português é um Espanhol mal falado”.

 

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Suas falas no Brasil foram marcadas por expressões populares. Quando visitava a favela de Varginha, em Manguinhos, nos arredores do Rio, disse: “Vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida. Como diz o ditado, sempre se pode ‘colocar mais água no feijão'”. E perguntou ao povo: “Se pode colocar mais água no feijão?”. Aplaudido, completou: “Sempre! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração”.

Bulgarian bean broth

Disse também: “Queria bater em cada porta, dizer bom dia, beber um copo de água fresca, beber um cafezinho. Mas não um copo de cachaça!”.  O Papa escolheu por metáfora “um copo de cachaça”, a bebida mais popular do Brasil.

Todavia não foi apenas pelas palavras e expressões que ele cativou o povo brasileiro. Sem conteúdo, as gírias e expressões seriam apenas enfeites de suas falas, que entretanto comoveram a muitos pelo conteúdo e pela sinceridade do olhar, como quando disse: “Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês”.

 

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Outro momento em que mexeu muito com as pessoas, foi quando declarou: “Não tenho ouro, nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!“.

 

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Esse Papa é uma boa pessoa. E o convívio com uma boa pessoa sempre nos faz bem! Foi o que aconteceu nos dias que ele passou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, que este ano se realizou no Brasil. A próxima será na Polônia.

O convívio foi facilitado pela semelhança entre a língua materna do Papa e a língua do país anfitrião. Talvez, como disse o irreverente Bernard Shaw da Inglaterra e dos EUA, que seriam dois países separados pela mesma língua, argentinos e brasileiros são unidos por línguas diferentes, como de resto acontece, aliás, com o Brasil em relação a todos os países da América Latina.

Um traço histórico da formação dessas línguas é a presença do Latim como mãe comum, mas não o Latim clássico, presente nas estruturas sintáticas do Alemão, mas do Latim vulgar, do Latim tal como falado na Península Ibérica, berço do Espanhol e do Português, depois trazidos para Brasil e Argentina, respectivamente por portugueses e espanhóis no alvorecer do século XVI no caso do Brasil, e no findar do século XV, no caso da América Espanhola.

 

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Imaginemos o jornalista Gerson Camarotti – sério candidato ao Prêmio Esso de Jornalismo com a emblemática entrevista que fez com Sua Santidade para a Globonews – tendo que entrevistar o Papa Bento XVI, cuja língua materna é o Alemão.

Ele teria dificuldades e travos que não teve com o Papa Francisco, pois este respondeu as perguntas em Português e só raramente recorreu ao Espanhol, muito parecido com o Português, mas com uma curiosidade: os brasileiros entendem o Espanhol dos argentinos, mas os argentinos raramente entendem o Português dos brasileiros. Talvez se esforcem menos do que nós para esse entendimento mútuo em línguas semelhantes.
 
Apesar de papas e cardeais serem todos poliglotas, poucos têm o domínio do Português, que, conquanto seja uma das línguas mais faladas no mundo, não tem a abrangência do Inglês, do Francês, do Italiano, do Mandarim, do Russo e do Espanhol. Os cardeais e os papas sabem também Grego e Latim, mas essas não são línguas de comunicação hoje no mundo.

Enfim, da visita do Papa ficaram coisas muito boas e, entre elas, a cálida convivência facilitada por línguas irmãs!

 

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P.S. Partes deste artigo foi publicada na revista Veja, no blogue de Augusto Nunes, na versão on-line.

 

*escritor e professor, Deonísio da Silva é Doutor em Letras pela USP, consultor dos Dicionários Caldas Aulete e membro da Academia Brasileira de Filologia.

 

AC

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NÃO FOI INRI QUE ESCREVERAM NA CRUZ, por DEONÍSIO DA SILVA

 

 

É sempre uma honra para nós do 40 Forever receber a visita ilustre do Professor Deonísio da Silva que nos enriquece com seus artigos! Minha santa ignorancia agradece este em especial!

AC

 

NÃO FOI INRI QUE ESCREVERAM NA CRUZ

“O Império Romano mandava escrever na cruz dos condenados o nome do réu e o motivo da pena de morte. No caso de Jesus, a tradição sempre informou que a explicação estava resumida no acrônimo INRI, como vemos nos crucifixos.

Mas o Evangelho de São João 19,19 informa que a frase foi colocada completa, sem abreviação ou acrônimo algum: “Pilatos mandou escrever e colocar na cruz esta inscrição: Jesus, Nazareno, Rei dos Judeus”. “Estava escrita em hebraico, em latim e em grego”.

 

Santa Helena, mãe de Constantino

 

Narrações históricas e lendárias informam que Santa Helena, mãe de Constantino, que no século IV tornou o cristianismo a religião oficial do império romano, liderou a expedição que encontrou a cruz em que Jesus foi crucificado, repartiu-a em três partes, mandando um pedaço para cada uma das três igrejas construídas especialmente para guardar o precioso tesouro: em Jerusalém, em Roma e em Constantinopla.

 

Golgotha

 

Erros de tradução contribuíram para que tal relato fosse dado como invenção, mas inventio em Latim significa descoberta. Então, ela não inventou essa história, ela descobriu a cruz, os pregos e a tabuleta nas escavações que mandou fazer no monte que em Hebraico era chamado Gólgotha, em Aramaico Gûlgaltâ, em Grego Kraniou topos, e em Latim Calvarium. Nas quatro línguas, o significado é o mesmo: lugar das caveiras. Era naquela pequena elevação, nos arredores de Jerusalém, que os condenados à morte eram crucificados.

 

Detalhe da Golgotha

 

Os romanos designavam titulus a tabuleta, cujo significado em Português é título, inscrição. E o que ali estava escrito era chamado elogium, que no Português elogio conservou apenas um significado positivo. No Latim designa identificação, podendo ser de nobreza ou não. Era semelhante ao Grego epitáhion, epitaphium em Latim e epitáfio em Português.

 

 

Em túmulos antigos, o epitáfio trazia versos enaltecendo as virtudes de quem ali estava enterrado, mas às vezes eram versos satíricos que debochavam de alguma característica ou defeito do falecido. Os romanos enterravam ou incineravam os mortos, dando origem à palavra busto, de bustum, queimado, do mesmo étimo de combustão. Isto porque, no lugar em que o morto era queimado, erguia-se um pedestal onde era posta a sua imagem em bronze.

Há outras curiosidades no elogium, a escrita do titulus, a tabuleta posta na cruz do Senhor. Como no Hebraico a frase é escrita da direita para a esquerda, o copista, a mando de Pilatos, escreveu as traduções em Grego e em Latim, também da direita para a esquerda, mas nessas duas línguas, como no Português, é da esquerda para a direita que se escreve. Pilatos exigiu também que a frase latina ficasse perto da cabeça do condenado. Assim, a hebraica ficou no alto, e a grega no meio das duas.

 

Salmo 23 em aramaico

A Palestina, palco dos trágicos eventos, era então poliglota. No comércio, usava-se o Grego. Nos documentos, predominava o Latim. No templo, o Hebraico. E na vida quotidiana, o Aramaico, língua em que Jesus ensinava aos contemporâneos.

 

 

Aonde nos leva essa fascinante história das palavras!”

 

Deonísio da Silva
Escritor e Professor, Doutor em Letras pela USP.
Da Universidade Estácio de Sá e da Academia Brasileira de Filologia

 

AC
 

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A LENDA DA PAPISA JOANA, por DEONÍSIO DA SILVA

 

O escritor e professor, Deonísio da Silva, nos conta hoje sobre a lenda da Papisa Joana. Será?

AC

 

 

A LENDA DA PAPISA JOANA (PAPA JOÃO VII)

A papisa Joana teria reinado no século IX, sob o nome de João VII.  A lenda surge na Europa, por volta do ano 850, e sua força foi tanta que, numa linhagem exclusivamente masculina, gerou na língua portuguesa o feminino papisa, do Latim tardio papissa, em homologia com rei/rainha, imperador/imperatriz, príncipe/princesa etc.

Filha de um cônego inglês, Joana nasceu em Mainz, na Alemanha, em 1814. Como ler e escrever fossem atividades proibidas às mulheres, seu irmão Mateus a alfabetizou às escondidas. Quando o menino morreu, outro irmão de Joana, chamado João, confiou o segredo ao tutor e este aceitou ensinar a ambos o Latim e o Grego, sempre às escondidas.

Ao ser transferido, o tutor prometeu a Joana que tudo faria para ajudá-la. E tempos depois chegou uma carta do bispo local pedindo ao cônego que enviasse Joana à sede da diocese. Ao chegar, Joana foi submetida a vários exames. Foi quando descobriu-se que era moça e não rapaz. Como tivesse demonstrado grande saber, o bispo autorizou que ela prosseguisse os estudos.

Mas havia o problema do alojamento, habitado apenas por rapazes. Então um conde ruivo chamado Geraldo, muito influente junto ao bispo, consegue autorização para Joana morar na casa dele. Todos os dias ela estuda junto com os rapazes, que a maltratam muito, e à noite vai dormir na casa do conde, de onde entretanto certa noite foge e procura o Mosteiro de Fulda.

Seu desempenho nos estudos é extraordinário. O monge médico, gostando muito dela, que todos acham ser ele, ensina-lhe medicina. Em pouco tempo, Joana torna-se o melhor médico do convento e sua fama chega a Roma, ao tempo em que reinava o papa Leão IV. Os cardeais, vendo-o muito doente, chamam Joana para cuidar dele. Curado e agradecido, o Sumo Pontífice a nomeia cardeal. Quando Leão IV morre, os cardeais a elegem papa, e ela, sempre disfarçada de João, toma o nome de João VII.

Mas o conde Geraldo, que era casado e amava Joana, ia a Roma muitas vezes para encontrá-la e acabou por engravidá-la. Joana iria dar à luz às escondidas, mas durante uma procissão passou mal e teve o menino no meio da multidão. Cardeais amigos logo proclamaram “milagre!”, levando-a de volta ao palácio, mas outras fontes dizem que mãe e criança foram apedrejadas até à morte.

Há muitas outras controvérsias sobre Papas. Alguns historiadores contam 261 papas, outros 265, dois quais 215 tiveram morte natural, 6 foram assassinados, 4 morreram no exílio e 1 na prisão. Os maçons fazem outra conta, dividindo os papas entre intramuros e extramuros.

 

A jornalista Giovanna Chirri

 

A igreja é uma instituição machista e esta é uma das razões da lenda de uma papisa. E vejamos só que outra ironia! Quando o papa Bento XVI falou aos cardeais, havia jornalistas no recinto, mas apenas a correspondente italiana Giovanna Chirri, por saber Latim, o entendeu. E deu o furo mundial, informando que o papa anunciara que iria renunciar.

DEONÍSIO da SILVA é escritor e professor, Vice-reitor da Universidade Estácio de Sá.

AC

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