Desde que o valente Papa Bento XVI anunciou sua surpreendente renúncia, ocorrida em 28 de fevereiro, que a leitura do meu jornal virou o “samba de uma nota só”: nada mais me interessa tanto quanto esta intrigante história. Só leio sobre este assunto, durmo pensando em seus detalhes, acordo ávida de novidades: a religião e o mundo ordinário nunca estiveram tão próximos.
E nosso antenado BLOG não dormiu de touca e convocou a competente e queridíssima Vanda Klabin, correspondente especialíssima em todos os lugares em que a arte pontifica, pra nos falar sobre os tesouros do Vaticano, em geral, e sua cereja do bolo ou a divina Capela Sistina, local onde tudo será decidido… Sigamos com ela! BN
VANDA KLABIN: “O Vaticano”
“No dia 28 de fevereiro de 2013 entrou em vigor a renúncia papal de Bento XVI, ocasião em que será escolhido, pelo conclave do Vaticano, o novo papa. A famosa fumaça branca da Capela Sistina poderá ser vista no aplicativo “THE POPE APP”, e em tempo real .
A cidade do Vaticano, murada dentro da cidade de Roma, sede da Igreja Católica, estará em evidência e apesar de ser o menor estado independente do mundo, abriga um dos maiores conjuntos da arte ocidental: a Praça de São Pedro, desenhada por Bernini, com suas 140 estátuas de santos , mártires, papas e fundadores de ordens religiosas, que compõem o conjunto de outras obras arquitetônicas importantes, como a Basílica de São Pedro, o Obelisco Egípcio levado por Calígula , Museu do Vaticano e a Capela Sistina.
A Basílica de São Pedro foi construída em 1506 /1626 e ali encontramos os túmulos dos apóstolos e dos pontífices. O baldaquino de bronze dourado que abriga o trono papal, foi desenhado por Bernini, no século XVII, e é um exemplo notável do barroco italiano. Giotto está presente o mosaico de Navicella, realizado no século XIII.
A Pietà, de Michelangelo, feita de um único bloco de mármore de Carrara, demonstra o virtuosismo técnico do artista. Encomendada para adornar o túmulo do cardeal francês Lagraulas, na corte papal, esse tesouro artístico foi entregue em 1499. Michelangelo tinha apenas 25 anos e é a única obra assinada pelo artista, na faixa qua passa sobre o busto de Maria.
O Museu do Vaticano teve início no século XV, através de encomendas ou doações e ali estão reunidas coleções de 12 museus. Abriga arte religiosa, etrusca, egípcia e moderna, afrescos, pinturas, esculturas e também obras de Giotto, Fra Angelico, Leonardo da Vinci , Rafael e Michelangelo.
As Salas de Rafael, Stanze di Raffaello, um dos tesouros do Vaticano, possui oito afrescos encomendados pelo Papa Júlio II, no início do século XVI, 1508, para decorar seus quatro aposentos internos. Foi onde Rafael representou o seus contemporâneos, a saber: Michelangelo e Leonardo da Vinci. O mais famoso é a Escola de Atenas. O artista também realizou os afrescos da passagem para o Palácio Apostólico.
A CAPELA SISTINA:
Foi construída ao lado da Basílica de São Pedro, no século XV, pelo Papa Sisto IV, no complexo das construções do Palácio do Vaticano. As paredes laterais já tinham sido pintadas pelos artistas Sandro Boticelli, Rafael e Bernini. É o lugar sagrado da cristandade e nas eleições papais, os cardeais votavam, comiam e dormiam nesta Capela. Hoje, eles ocupam um alojamento na Casa Santa Marta.
A Capela Sistina, que tem apenas 41m X 13,5 m de área, foi restaurada no século XX, durante quatro anos, e entregue ao público em 1993, trazendo à tona uma luminosidade e cores inesperadas, escondidas pelos fungos, dióxidos de carbono e outras contaminações. Hoje em dia, estuda-se um controle maior das vistas e a instalação de um sofisticado sistema de descontaminação, para evitar novas restaurações e a deteriorização deste grande afresco sistino .
Os afrescos para a abóbada da Capela Sistina, uma das obras seminais da arte ocidental, foram pintados por Michelangelo, entre 1508 e 1512, ele então com 33 anos de idade, por encomenda do Papa Júlio II, que era sobrinho do Papa Sisto IV. Apesar de ter sido interrompida devido à suspensão de fundos, por parte do pontífice, foi entregue a tempo de Júlio II conseguir vê-la antes de morrer. A abóbada foi apresentada ao público no dia de Todos os Santos, em 1512.
Os nus lascivos dos afrescos de Michelangelo foram posteriormente censurados, considerados obscenos e inaproriados . Razão pela qual foram acrescentados alguns panos e véus em defesa do pudor. Por isso escaparam, por pouco, de serem totalmente destruídos.
Michelangelo, o mestre italiano que trouxe uma enorme contribuição à estética moderna, vai utilizar uma mesma tonalidade cromática, luminosa, sempre concentrado na representação da figura humana, não abrindo espaço para a paisagem, como mostram as complexas organizações das cenas monumentais da abóbada da Capela Sistina.
A superfície da abóbada é articulada por pilares, onde nas áreas triangulares, pequenos compartimentos pictóricos, reúne nove painéis principais com cenas extraídas do Gênesis e o início da historia da criação do mundo: a Sibila Délfica, o dilúvio universal, a criação de Adão, a criação de Eva, o pecado original e expulsão do paraíso, Moisés e a Serpente de Bronze, a criação do sol e da lua, Deus separando a luz das trevas, Deus separando a terra das águas, o sacrifício de Noé, Noé embrigado. Nas áreas triangulares, estão representados os profetas e as sibilas.
O Juízo Final, obra mais tardia de Michelangelo, que estava com sessenta anos de idade quando a realizou entre 1536 e 1541, foi pintada atrás do altar da Capela Sistina. A composição é centrada na figura dominante de Cristo flutuante e no pulsar dos corpos ali presentes: as cenas e figuras se torcem ou se reviram em planos sobrepostos. Representa o último ato da história da humanidade, e implicava na idéia de uma avaliação, do veredicto para os condenados e os eleitos.
Para o historiador Robert Longhi, a arte de Michelangelo mudou o conceito do corpo humano e inventou a tridimensionalidade na pintura: é o mundo observado sob a espécie de um torso, “il monde come torso”.
Jamais esqueço de uma frase do escritor francês Sthendal a respeito de Roma: “todas as reputações ficam pequenas quando entram nessa célebre cidade”. Vanda Klabin
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