Nosso blog presta hoje uma homenagem ao teatro brasileiro e o faz na pessoa de HUGO RODAS, que acaba de completar 75 anos, e de receber a mais importante homenagem da Universidade de Brasília: o título de professor emérito, a mais alta honraria acadêmica. Nada mais justo e merecido para uma pessoa ímpar, de pulsante talento e criatividade !!!
Convidei minha amiga Karla Osorio, advogada e dona do Ecco em Brasilia, para falar desta pessoa que eu amo e que está no meu coração, um dos grandes diretores de teatro desta país. MP
“O grande diretor teatral, ator, bailarino e cenógrafo que é um criativo por excelência, um artista pleno, exuberante, culto, profundo e carismático. Alguém que está além de seu tempo e que ao tempo desafia, pois com o passar dos anos rejuvenesce sempre mais, revigorando seu espírito e aqueles dos que tem o privilégio de lhe conhecer, de admirar sua magnífica produção cênica.
Hugo é, certamente, o “mais brasileiro dos uruguaios”, pois há 40 anos escolheu o Brasil como seu país de coração e aqui tornou-se uma das pessoas chaves, referenciais do teatro com repercussão nacional e internacional. Firmou-se como um dos mais talentosos e importantes diretores de seu tempo. Doutor Notório Saber em Artes Cênicas, pela Universidade de Brasília – UnB, trabalhou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), no Teatro Oficina, recebeu o Prêmio Shell de Direção pelo espetáculo Dorotéia, em 1996, e no ano 2000 foi reconhecido Cidadão Honorário de Brasília.
Ao longos destes anos foram centenas de espetáculos sob sua direção, participação em formação de vários dos grandes atores brasileiros hoje como Denise Stoklos, Juliano Cazarré, Carolina Ferraz. Rosana Viegas, e dezenas de outros, além de parcerias importantes com diretores como Antonio Abujamra, José Celso Martinez Corrêa. Aliás, o próprio Zé Celso, criador do Teatro Oficina e outra figura essencial do teatro no Brasil diz sobre Hugo:
“Este gênio que vai muito além do que esses que foram grandes artistas mais, contidos, civilizados, caretas, do Hemisfério Norte. … é o grande Xamã Artista do Teatro do Hemisfério Sul: em Cena e na UnB. O Grande Performer, Guarany-uruguayo-brazyleiro,acolhido, cultuado no Planalto Central do Brasil em Brasília, e pelo Brasil afora.”
Por opção e encantamento Hugo elegeu Brasília com cidade, encantado pelo planalto central, pelo céu, pela imensidão do cerrado, pela arquitetura e pelo carinhoso acolhimento que recebeu de tantas pessoas quando ali chegou. Fincou raízes e dali espalhou suas ideias pelo país, viajando sempre para dividir direção, oferecer cursos ou treinar atores em outras cidades.
Começou trabalhando com o lendário Grupo Pitú, quando, como ele mesmo diz, desenvolveu experiência marcante no seu fazer e entender teatral. A junção das artes que rascunhava nos anos sessenta, a reconquista da rua, o encontro com espaços alternativos e a incipiente censura da palavra, o levou a desenvolver um trabalho e uma técnica que o conduziram à entra na Universidade de Brasília, seu ponto de referência acadêmica que o tornou o mestre do teatro na cidade. A vida universitária lhe permitiu a reflexão e observação constante da sua renovação e movimento.
A obra de Hugo é mais ampla que o próprio teatro, permeia as artes plásticas, a dança, a música (ele próprio um grande pianista), o movimento cultural como um todo. Sua característica marcante é um entusiasmo e um vigor sempre renovados que embriaga e contagia o público. Sua “utopia liberadora que se alimenta do excesso“, com diz o Marcos Mota, que também lembra que um dos traços marcantes de Hugo é sua “imaginação sonhadora”, pois ele habita o mundo com seus devaneios constantes, renovados, intermitentes…. Sonhando, Hugo pensa e faz. O excesso do sonhador se manifesta no excesso das coisas sonhadas. As obras de Hugo projetam esse devaneio avassalador que consome atores e audiência. Há todo um surgir de sons, imagens e movimentos síncronos e assíncronos, interrupções, mudanças de expectativas, sobreposições, em suma, um espaço movente mesmo na tridimensionalidade daquilo que imediatamente se revela sobre nossos olhos..”
Tive o privilegio de conhecer e compartilhar da amizade deste querido Hugo (Huguito, como chamam carinhosamente os amigos mais próximos) e posso testemunhar a enorme importância e o carisma que tem esta pessoa para o teatro e para a arte no Brasil.
Para quem quiser saber mais desta figura, grande personagem das artes em nosso país, recomendo um belo livro publicado pela Editora ARP, em 2010, “Hugo Rodas”, sob minha coordenação, magnífico texto de Marcos Mota, depoimentos de grandes artistas e diretores, e um grande registro iconográfico de grande parte de seu percurso de vida.