Volta ao nosso BLOG para mais uma dica deliciosa, Maria TM, estilista no dia a dia e gourmand nas horas vagas, capaz de muitas proezas para comer um bom bocado. Sigamos com ela! BN
MERCADO DE SAN MIGUEL, por MARIA TM
“Em março, fui à Madrid com minha irmã e uma querida amiga. Passamos apenas 3 noites lá, por isso, todos restaurantes, programas, etc, foram escolhidos a dedo para aproveitarmos a cidade ao máximo.
À noite, fomos aos lugares mais badalados, desses que precisam de reserva com pelo menos 2 semanas de antecedência, até pra ficar em pé na calçada. Mas a verdade é que nenhum dos “hotspots” madrileños me surpreendeu, afinal, eles são iguais em qualquer lugar do mundo… A sensação é um pouco de “been there, done that.”
Foi então que, no sábado, decidimos almoçar no mercado de San Miguel. Situado na praça com o mesmo nome, o mercado é um centro gastronômico onde a comida informal é a protagonista. Pra quem nunca esteve num mercado tipicamente espanhol, não vá achando que eu fui almoçar no Zona Sul ou no Mundial…
Imagine uma espécie de “feira” fechada, onde cada comerciante tem sua própria lojinha, com sua própria especialidade, entusiasta do seu produto (fresquíssimo e sazonal): uma Cobal up-graded, pronto! E foi fazendo esse programa de “turista” do mundo, que eu me senti mais local que nunca.
Confesso que chegando lá, ficamos meio confusas: centenas de pessoas lutavam pra arrumar um lugarzinho, entre as escassas cadeiras e mesas espalhadas sem muita ordem (no frigir dos ovos, nem 10% da multidão conseguiria sentar). Entre muito barulho, conversas, risos, calor humano, comerciantes gritando, gente se esbarrando, um verdadeiro “melting pot” de nacionalidades (japoneses como sempre, brasileiros como nunca, europeus… e claros, muitos espanhóis), conseguimos nos apertar numa bancada (1 banco para 3 pessoas… que suerte!).
Tudo isso e embaladas ao som de uma roda de flamenco, improvisada por um violão semi desafinado, palmas descoordenadas, e um grupo de espanhóis já um pouco embriagados. Se você for latino, vai se identificar; se não for, vai achar graça. Eu fiquei encarregada de ir atrás de comida para “picar” (ou beliscar como falamos aqui), enquanto as meninas guardavam nosso precioso lugar, tomando um vinhozinho, justo?!
Minha primeira parada foi numa “estação” especializada em peixes e frutos do mar. “Que quieres?” “Hmmm…” e pronto: 5 segundos de indecisão foram o suficiente para o atendente passar pro próximo da fila. Afinal ela é grande, e tem que andar… Aqui, até no sábado ninguém tem tempo a perder. Ok, já entendi: primeiro dou uma olhada no cardápio (geralmente exposto em cima do balcão), faço uma “mental note” com meu pedido, e aí sim, chego preparada e de preferência com o pagamento dispensando troco. Tartar de atum vermelho de almadrava, salmão defumado, camarões a la plancha, mexilhões à francesa, almejas de Carril, robalo no sal grosso… São dezenas de peixes e crustáceos, preparados de diversas formas diferentes, à la catalana, de Andalucía, à moda da região basca… Acabei optando pelo “pescaíto frito”: um mix de friturinhas delicioso (anéis e patinhas de lula, manjubinhas de Málaga, e pedacinhos de polvo) num cone de papel (muito prático pra quem ia levar o lanche “pra viagem”).
Continuando minha peregrinação pelas “tendas”, dei uma paradinha nos embutidos porque NUNCA se passa batido por jamón ibérico. Peguei também alguns “montaditos” (que parecem nossos canapés, feitos com pão e toppings variados), umas empanadas sortidas e, por fim, as tão famosas “croquetas” (lá eles fazem com tudo: carne, jamón, cogumelos, camarão…). Não me pergunte como consegui levar e comer essa quantidade de coisas mas só sei que, além de tudo, ainda sobrou espaço para os deliciosos churros com chocolate.
Embora bastante engordativo, nosso passeio e almoço no mercado foi um sopro de ar fresco entre tantos ambientes descolados, entradinhas fusion agridoces, drinks exóticos, contas caríssimas e hostess com cara de modelo da Victoria’s Secret, te olhando de cima à baixo. Mais que uma experiência gastronômica, foi uma experiência cultural que eu recomendo muito. Um reflexo da pluralidade da culinária espanhola, reunida em um espaço tão autêntico e vibrante, e mesmo saindo de lá quase rolando, não tive como não me sentir totalmente revigorada.” MTM