Hoje é Dia dos Pais: parabéns para todos os homens maravilhosos que fazem de seus filhos a grande alegria de viver… Para homenagea-los, nada melhor que um assunto que talvez os agrade, deixando a ressalva: “o Ministério da Saúde adverte que fumar não está com nada”.
Continuando meu périplo por Cuba, a maior surpresa foi conhecer o fascinante Mundo do Habano, preciosidade única e exclusiva destas bandas. Vuelta vai Havana vem, editei os erros e acertos destas minhas andanças e consegui montar, pra vocês, um roteiro didático e cronológico da gênesis do melhor charuto da face da terra.
Até então, eles eram pra mim acessório de pessoas sofisticadas, normalmente do sexo masculino e “acháveis” na filial carioca do Esch Café. Jamais havia parado pra pensar no universo que gira, freneticamente, por trás da caixa de madeira que carrega os mais famosos filhos consumíveis da Ilha: a sua intrínseca cadeia de produção, a excelência dos ítens que participam da confecção, a perícia dos numerosos artesãos que contribuem para sua grandeza. São números impressionantes em quantidade e qualidade.
Aconselho, a quem tiver interesse, a leitura agradabilíssima do livro “El Mundo Del Habano”, é um belo começo de aprendizado. Não é à toa que personalidades do quilate de Winston Churchill, George Washington, John Kennedy, Marlene Dietrich, Michael Jordan, Getulio Vargas, entre outros, não passavam sem um.
Descobri também que vinho e charuto, apesar das distâncias geográficas e físicas, são primos legítimos, como dizem no nordeste. Por isso, repito o título deste post: o Habano é o “premier grand cru classé” dos charutos. Assim, ambos devem sua distinção a um misto de circunstâncias geo-climáticas únicas chamadas “terroir”; são fruto de blend ou mistura; têm plantio, safra e colheita anual em data certa. Passam, igualmente, pelo processo de fermentação (o tabaco por mais de uma) e envelhecimento, onde ambos descansam por x anos até estarem aptos a serem “embalado” para consumo. E o mais incrível, carregam necessariamente a sigla D.O. C. Ah, sabe qual o nome do especialista em charutos: “habanosommelier”, bien sûre!
ALGUNS DETALHES:
– O ciclo do charuto dura de novembro a fevereiro, da semeadura à colheita. Portanto, quem for aproveitar o roteiro abaixo, tem que estar por lá neste período.
– Para melhor situar a importância deste passeio, comparo: Pinar del Río está para o charuto como a região de Borgogne, na França, está para o vinho. E Vuelta Abajo (a mancha sagrada de onde brotam as melhores e únicas folhas admitidas na confecção dos Habanos) é a Côte d’Or dos charutos;
– Nas fincas plantam e processam as folhas de tabaco que saem devidamente tratadas e embaladas para a confecção dos habanos. Como contei, os charutos também têm safras, por conta das variações climáticas e quem julga e classifica este resultado é o governo cubano, que distribui as folhas para esta ou aquela fábrica, de acordo com a qualidade que alcançaram;
-Todos os charutos são feitos com folhas de uma única planta. Só que estas sofrem variações devido à localização no caule por conta da insolação. Por exemplo, as mais altas são as Corona, que ficam mais expostas ao sol e por isso têm mais fortaleza e sabor;
– As folhas são cultivadas de duas formas, pela necessidade. Em estufas, “tabaco tapado”, para fazer as capas dos charutos, e a céu aberto, “tabaco de sol”, para a tripa e capote do charuto.
– O que distingue uma marca de charuto da outra é como suas folhas foram mixadas, isto é, seu blend.
PASSEIO DEL HABANO:
– Agora, vamos passear…
Vale a pena reservar um dia inteirinho de sua viagem para cumprir o trajeto do charuto, seu universo é lindo e fascinante. Para tanto, aconselho deixar Havana em direção à Vuelta Abajo, às 8 da manhã acompanhado de um farnel que substitua o sacrossanto almoço: hoje ele não vai rolar. O percurso dura umas 2 horas e meia. Chegando lá…
– Primeira Parada: Visita à Finca Robaina
– A “finca” ou fazenda produz, trata e armazena as folhas dos Habanos. Existem duas que valem a pena a visita pois estão estruturadas para receber os turistas e lhes mostrar todo processo: Finca Robaina ou Finca de Monterrey
– Fui, com minha família, à espetacular “Finca Robaina” cujo dono, Hirochi Robaina, considerado o rei do tabaco, é seu maior e melhor produtor. Pra se ter uma idéia, além de Cuba, ele possui fazendas em Santo Domingo e até em Las Vegas, nos Estados Unidos, onde produz um charuto mais popular.
– Chegamos, com visita marcada previamente, e fomos recebidos por um funcionário poliglota que mostrou-nos o passo a passo da primeira etapa do elaborado processo de produção dos habanos: a que acontece na finca. Incluído aí o plantio, colheita, secagem, fermentações e envelhecimento das folhas de tabaco. Acompanhamos, ao vivo e a cores, cada uma destas etapas, tiramos nossas dúvidas e coroando o passeio, vimos um charuto ser enrolado: luxo só!
Esta visita dura cerca de uma hora: voltemos à Havana.
– Segunda Parada: Fábrica de Charuto:”
– Chegou a hora de visitar as emblemáticas fábricas de habanos, a maior parte localizadas em enormes casarões em Havana, programa único: fomos à da Partagas.
– Antes de começar o tour, cada grupo é recebido por um guia que conta a história dos habanos e seu processo de fabricação. Depois, nos leva para conhecer (quase) todas as dependências, avisando: é proibido qualquer tipo de registro. Imagens, só as oficiais. Dá uma vontade de fotografar…
– Passeamos por salas e mais salas, repletas de homens e mulheres de qualquer idade, que passam o dia confeccionando os charutos, inteiramente à mão. Nenhuma máquina é capaz de copiá-los, são chamados “los torcedores”. O pitoresco; são embalados por um som altíssimo que reproduz o último “hit” de música pop, o mesma que ouvimos em nossos rádios por aqui. É muito impressionante!
(Amigos contaram que no passado, passavam o dia ouvindo os discursos de Fidel Castro)
– Terceira Parada: Pondo em prática…
– Quando chegar a este ponto do dia, vai bater um certo cansaço… Nada melhor, então, para coroa-lo, do que ir à “Casa dos Habanos”, em frente ao Porto, em Havana Velha. Compra aí o habano de sua preferência e sente-se no cafe do lado de fora, peça uma taça de rum e a maravilhosa companhia do sommelier local: ele vai te dar uma aula super interessante de como lidar com a jóia da coroa cubana. Uma vez só não faz mal, é cultural! BN