Sigo a carreira de Marcelo Bratke há mais de 25 anos, um dos maiores pianistas brasileiros do nosso século, e pedi uma entrevista exclusiva para o 40 FOREVER, onde ele nos conta um pouco de sua vida.
Marcelo foi aclamado pelo jornal New York Times por sua interpretação de Villa Lobos no Carnegie Hall e tem se apresentado nas mais prestigiadas salas de concerto do mundo, como a Queen Elizabeth, em Londres, a Konzerthaus, em Berlim, no festival de Salzburg ou no Suntory Hall, em Tóquio.
Seu CD dedicado ao “Le Groupe des Six”, de Jean Cocteau, foi considerado pela revista britânica Gramophone como uma das melhores gravações eruditas de todos os tempos.
Marcelo é um grande motivo de orgulho para o nosso país.
Trechos de Marcelo tocando.
Aqui com tocando com a cantora Sandy
MP – Como se sente tocando no Brasil?
MB-Adoro tocar no Brasil! Não somente no circuito das grandes salas de concerto, como a Sala São Paulo e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde toco freqüentemente, mas também em cidades que nunca recebem projetos culturais. Tenho ido muito à região amazônica. Estados do Amazonas e Pará. Além dos dois grandes teatros, como o Teatro Amazonas, em Manaus, e o Teatro da Paz, em Belém, tenho realizado concertos em lugares isolados, como Canaã dos Carajás, Parauapebas e Marabá. Em 2016 farei uma grande turnê por pequenas cidades do Estado de São Paulo, onde o público delira com os concertos.
MP- Qual a sala de concerto que você mais gosta de tocar? Porque?
MB-O Carnegie Hall, em Nova York. Quando eu estudava na Julliard School of Music me lembro que passava em frente ao Carnegie Hall e pensava (inseguro) comigo mesmo: acho que neste palco nunca vou tocar ! O Carnegie Hall foi inaugurado por Tchaikovsky! Rubinstein, Horowitz, Toscanini, Karajan, Frank Sinatra, Villa-Lobos, Tom Jobim e João Gilberto passaram por lá. Há uma energia incrível, como em nenhuma outra sala de concerto. Uma acústica perfeita. Toquei diversas vezes no Carnegie Hall, mas a minha estreia foi em 2004. Foi o primeiro concerto que fiz logo após eu ter realizado, em Boston, uma cirurgia oftalmológica que fez com que eu enxergasse o mundo como ele é pela primeira vez, pois nasci com um problema grave de visão. Foi uma profunda emoção entrar naquele palco e conseguir, pela primeira vez, ver os rostos das pessoas que estavam na plateia naquela noite. Nunca me esquecerei!
MP- Me conte um pouco de sua vida artística neste momento…Onde está morando? Com quem você está estudando?
MB-Criei há alguns anos a Camerata Brasil, uma orquestra que profissionaliza jovens que vieram de áreas desprivilegiada da sociedade brasileira. É uma orquestra bem brasileira onde há uma fusão entre músicos eruditos e populares. Realizamos juntos nos últimos 7 anos mais de 300 concertos em 11 países. É um projeto que cresceu muito e que tem sido endossado por importantes instituições nacionais e internacionais como o The New York Times, a BBC de Londres, O Ministério das Relações Exteriores e o British Arts Council, entre outras. Vivo entre Londres e São Paulo desde 1994 com minha esposa que é a artista plástica Mariannita Luzzati.
MP- Foi importante para você sair do Brasil? Porque?
MB-Eu sempre fui meio nômade e desde os 22 anos de idade vivi em vários países. Aprender com outras culturas foi essencial para mim. Sair de um “porto seguro” e ter que articular novos modos de pensar. Não somente pensar a música, mas a vida em geral. Estou sempre aprendendo algo novo e o fato de eu viver em dois lugares tão antagônicos, me faz vivenciar o mundo em sua diversidade.
MP_ Quem foram seus grandes professores?
MB-Minha primeira professora, Zélia Deri, que foi quem colocou literalmente minhas mãos no piano. E o grande mestre: o compositor, maestro e filósofo musical alemão Hans Joaquim Koellreutter.
MP- Quem o artista que vc mais gosta de interpretar?
MB-Heitor Villa-Lobos!
MP- Como se sente sendo considerado um dos maiores pianistas do mundo?
MB-Para mim o importante é poder realizar os meus projetos e ter a liberdade de me colocar novos desafios, sempre! Vejo a música como um instrumento que aproxima as pessoas e as culturas distantes.
MP- Qual suas próximas metas?
MB-Seguir com o projeto Camerata Brasil e o projeto Villa-Lobos Worldwide, um projeto que criei para divulgar a obra de Villa-Lobos no mundo e que inclui várias ações: a gravação de sua obra para piano em 8 CDs com distribuição em 30 países pela gravadora britânica Quartz e pela brasileira Biscoito Fino, concertos no Brasil, Europa, Estados Unidos e Ásia, concertos especiais para crianças de várias partes do mundo, concertos em penitenciárias brasileiras e um programa de rádio que apresento semanalmente na Cultura FM de São Paulo chamado Alma Brasileira.
Pra terminar, sessão PING PONG:
MP- Quem é seu idolo? Um ou mais?
MB- Woody Allen e Ingmar Bergman.
MP- Qual seu hobby?
MB- Desenhar.
MP- Livro de cabeceira?
MB- As partituras de Villa-Lobos
MP- Cidade preferida?
MB- Istambul (que ainda não conheço!)
MP- Tem planos de tocar no Rio? Quando?
MB- Sempre tenho planos para estar no Rio. No segundo semestre de 2016 farei uma turnê nacional enfocando Villa-Lobos e Tom Jobim que passará por 20 cidades e que incluirá o Rio de Janeiro.
Marcelo, te desejo sempre muito sucesso e obrigada por representar o Brasil de forma tão nobre, mundo afora! MP