Quem puder não deixe de assistir ao documentário “DIOR and I”, contando os bastidores da Maison Christian Dior com a chegada de Raf Simons, o designer belga que assumiu o comando da casa!
Leve, interessante, emocionante, bonito de se ver, o documentário nos mostra o dia a dia, os bastidores, as divinas costureiras da marca, como cada peça é feita, de maneira concisa e agradável; amei e recomendo pra quem gosta e se interessa pelo assunto.
Vi na Apple TV e virei fã de carteirinha de Raf Simons, genial, que além de ter feito uma linda coleção, teve a idéia sensacional de cobrir de flores variadas as paredes da casa onde foi feito o desfile, simplesmente dos mais lindos da história! Palmas pra ele!
AC
Abaixo a coleção de Primavera 2015, que está nas lojas agora!
Vestido da próxima coleção de Outono-Inverno 2016, abaixo:
Não deixem de ler este texto interessantíssimo que o Professor DEONÍSIO DA SILVA compartilha com o 40 Forever!
Sem querer, ou querendo, nos tornamos “voyeurs” da vida alheia…
AC
BIG BROTHER: INVASÃO DE PRIVACIDADE, MAS COM AUTORIZAÇÃO!
Deonísio da Silva
“Em 1993 ainda era possível surpreender-se. A bela e gostosa Sharon Stone, com as imagens ainda frescas na memória de todos do extraordinário cruzar de pernas sem calcinha no filme anterior, Instinto Selvagem, era vigiada por câmeras ubíquas, instaladas por William Baldwin em todo o prédio de luxo onde ambos moravam (ele, o dono; ela, a inquilina), cada qual em seu apartamento, mas que diferença fazia para o espião?
Como um deus que tudo vê, pior do que o triângulo ameaçador, com um olho no ângulo superior, quase sempre posto ao lado do crucifixo nos seminários onde estudaram tantos, ele vigiava tudo. Em vez de “Deus me vê”, “O vizinho me vê”.
Sexo, repressão e bisbilhotagem. Sharon Stone chorando durante um orgasmo é coisa de nunca mais se esquecer, cala-te boca! Um detalhe curioso: Baldwin pediu para excluir acena em que ele fazia um nu frontal. Mas hoje as locadoras apresentam uma versão sem cortes, com diversas cenas que foram cortadas da telona, mas alto lá! O pudor americano, de ethos protestante, não causa escândalos nem em jardins da infância e educandários para pequerruchos brasileiros.
Nesses trópicos, seguindo Freud sem querer, a vida sexual começa cedo, em parte pelo clima, depois pela praia e antes de tudo pelos costumes paradoxais de um país que nasceu sob o signo da Contrarreforma, com ampla hegemonia do Concílio de Trento, mas com padres e demais colonizadores cercados de índios pelados por todos os lados na Ilha de Vera Cruz. Nem mesmo depois de mudado o nome para Santa Cruz ou Brasil, a repressão triunfou. Ao contrário, os franceses perderam a invasão de Portugal, mas logo após a queda de Napoleão, para cá vieram com tudo, principalmente com costumes mais avançados dos que aqueles vazados pelos padrões da época no século XIX!
O roteiro é de Joe Eszterhas. As ações se passam em Manhatan, o celebérrimo território de Nova York. A bela se envolve com a fera, e é desejada também por outro vizinho, Tom Berenguer, um furioso em estado bruto, suspeito número um dos assassinatos que ali ocorrem, escritor complicado e misterioso, com ideias sinistras. Invasão de Privacidade, adaptado do nome original, Sliver, logo estava disponível nas locadoras de vídeo, mas a censura nas salas prescrevia 18 anos, ave!
Repressão a gente empacota e vende, devem pensar os produtores. Phillip Noyce, o diretor, deve ter agradado à Paramount, que ganhou um bom dinheiro com aquele filme, ao mesmo tempo comercial e artisticamente muito bem cuidado, com trilha sonora de clássicos da música eletrônica, com destaque para os da banda de roque industrial Young Gods. Sucesso mundial, o filme arrecadou 116 milhões de dólares, uma fortuna para a época.
O cinema, o vídeo e a televisão devem muito à literatura. Invasão de Privacidade retoma em verdade o clássico personagem de George Orwell, Big Brother, figura solar do romance 1984, publicado em 1948! A frase Big Brother is watching you, assim ambígua, pode significar que o Grande Irmão cuida de ti e também o Grande Irmão te vigia.
Mas se antes todos temiam o Big Brother, agora as coisas parecem de ponta-cabeça. Milhões de pessoas buscam olhar – melhor ainda se forem olhadas – os outros, vigiá-los, acompanhar cada pedaço do dia de suas vidas, com câmeras que por enquanto, mas só por enquanto, excluem o banheiro, ainda que, naturalmente, não o chuveiro.
A prova dos nove? Os milhões de telespectadores do programa homônimo da TV Globo, logo imitado por outras emissoras com nomes diferentes, mas sempre com o propósito solar do Big Brother original e do filme Invasão de Privacidade: o voyeurismo. Voyeurs e voyeuses – sim, as mulheres também são multidões no prazer de espiar a vida alheia e talvez tenham antecedido os homens nesse particular.
Vivemos hoje na mídia, ao lado dessa patologia, uma outra de proporções igualmente alarmantes, a da confissão. A mídia, principalmente a televisão e a internet, transformaram-se em gigantescos confessionários.
A peça de madeira que hoje ainda vemos em igrejas e catedrais inclui uma treliça de madeira – talvez o conceito mais próximo do inglês Sliver, título original de Invasão de Privacidade, cujo significado é lasca, tira. Inventado na Idade Média por engenhoso carpinteiro, a pedido de autoridade eclesiástica superior, tinha o fim de evitar que ao confessar-se a pecadora, mesmo sinceramente arrependida dos pecados, principalmente daqueles contra a castidade, se agarrasse ao confessor e daqueles abraços de mútuo conforto entre penitente e confessor nascessem pecados ainda maiores do que aquelesque estavam sendo relatados. A treliça deixava passar a voz, não a imagem dos pecadores que, ajoelhados e contritos, aguardavam a penitência e a absolvição, prometendo nunca mais pecar! Voltavam a pecar, naturalmente, do contrário a próxima safra da igreja ia para as cucuias, mas os ritos não dispensavam três coisas: a confissão, o arrependimento e a promessa de não fazer mais aquilo!
Agora é tudo sem treliça. E se o sujeito quiser o descruzar de pernas sem calcinhas e muito mais, raramente com a elegância da primeira descruzada da diva, agora já caminhando para o acaso da sua estonteante beleza, as ferramentas – não é assim que são chamadas? – estão à disposição na rede.
Há celebridades instantâneas e explícitas, querendo mesmo se mostrar para vender os corpos, como garotas de programas e ofícios de domínio conexo, que há poucos anos se anunciavam como cachorras, potrancas e gatas – afinal temos um passado agropecuário glorioso, um presente igualmente abundante e um futuro promissor para quem põe tudo à venda – e também as implícitas, como aquelas pessoas que vão aos programas de televisão protagonizar os mais escandalosos barracos.
Você troca de canal? Nem eu! São imperdíveis retratos de nossa modernidade. Logo após um suado pastor subir o monte não sei das quantas com um volume enorme às costas, cujo título é Livro da Vida, vem outro anunciar as tribulações anunciadas por profetas furiosos. Aliás, eles adoram a palavra “tribulação” e se fixam no Antigo Testamento, pois o Novo é muito suave para o que objetivam. É preciso ameaçar o povo, não libertá-lo!
Depois disso, nas altas horas principalmente, vem o resto, aquilo que não pôde ser proclamado nos programas matutinos e vespertinos, em meio a receitas culinárias e conselhos matrimoniais.
Que vemos, então? Nos mais contidos, muitas lingeries. Nos mais explícitos, nenhuma!
Mas o que querem elas e eles? Querem apenas rosetar? Não! Agora todos querem se mostrar! E há olhos por todos os cantos, vendo tudo, à frente de ouvidos, que tudo ouvem.
E o cérebro, propriamente? Bem, parodiando Cesare Pavese, o escritor italiano de Lavorare estanca (Trabalhar cansa) que, cansado de combater o fascismo, que o pôs atrás das grades, suicidou-se em Turim aos 42 anos, inconformado e desesperado com os rumos de seu país no após-guerra, pensar também cansa!
Bom mesmo é olhar! E olhar sem que o outro te veja, eis a chave do sucesso dessas permitidas invasões de privacidade.
A porta está aberta. Entre e olhe. Você não será visto! A impunidade está garantida. Será? Já se instalam câmeras em televisores para que sejam avaliadas as reações dos telespectadores. Na maioria deles as reações são as mesmas de uma alface ou de um repolho. Enquanto isso, na mesma sociedade que parece tudo vigiar, como mostram as multas de trânsito, inumeráveis crimes continuam sem solução, ao contrário do que ocorria em Invasão de Privacidade.”
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Deonísio da Silva, escritor e professor, Doutor em Letras pela USP, é Vice-reitor de Extensão da Universidade Estácio de Sá, no Rio. Faz coluna semanal de Etimologia na revista CARAS.
Conversar com o João Emanuel é sempre um prazer inenarrável!
Simples, engraçado, brilhante, é um privilégio poder ouvir suas histórias hilárias, sua narrativa de fatos do dia a dia que vindas dele se tornam “causos” maravilhosos!
Hoje ele nos brinda com esta entrevista!
AC
AC: Você cresceu cercado por duas mulheres incríveis e fortes, sua mãe, Lélia Coelho Frota e sua avó, D. Lucília, que em plenos 102 anos continua passeando por aí, maravilhosa. Que influencia elas tiveram na sua formação? Conte-nos um pouco da sua infancia e juventude.
JE: Filho único, fui criado pela minha mãe, Lélia Coelho Frota e pela minha avó, D. Lucilia, duas mulheres extraordiárias cada uma à sua maneira. Da minha mãe acho que herdei a enorme curiosidade pelas coisas, e da minha avó um espírito prático e o gosto pelas coisas da casa. Minha mãe viajava comigo pelo mundo todo quando eu era pequeno, o que me deu um chão muito grande. Mas de uma forma geral fui um menino solitário que buscava refúgio nos livros, no gibis e nos brinquedos.
AC: O que vem antes nas suas histórias, alguma idéia ou algum personagem para o qual você desenvolve a trama?
JE: Uma novela é mesmo como um novelo, algo que você sente que cresce na sua mão, uma história que tenha fôlego para infinitas horas, se desdobrando, se reinventando. Minhas histórias partem de uma idéia. No caso de Avenida Brasil, a idéia de duas antagonistas que fossem ambivalentes, duas mulheres que agem certo e errado, cada uma a sua maneira, para que caiba ao publico julgá-las.
AC: Pra quem você prefere escrever, para a vilã ou para a “mocinha”? JE: Gosto de vilãs capazes de nos cativar e de mocinhas passíveis de errar.
AC: Qual é o seu personagem favorito, e qual personagem de outro autor de novelas que você gostaria de ter criado? JE: A Víúva Porcina!
AC: Você era “noveleiro” quando criança e adolescente, algum autor te influenciou especialmente? O que gostava de ver na TV? JE: A novela que me marcou mesmo foi o Roque Santeiro, que vi quando era criança. Não perdia um capítulo! Mas gostava de ver de tudo na tv.
AC: O que te fascina e o que te assusta?
JE: O desafio de criar uma história fascina e assusta ao mesmo tempo. Consiste em se criar problemas o tempo todo, se pôr em cheque.
AC: Você consegue ter um relax enquanto está escrevendo uma novela, ou é só trabalho? O que voce gosta de fazer quando pode?
JE: Gosto de nadar e de ler. Sobra pouco tempo pra isso quando escrevo novela…
AC: Passeando por aí você deve ouvir muitas opiniões sobre a sua trama. Isso te influencia no rumo dos personagens ou da história?
JE: Você tem que escutar todo mundo e ao mesmo tempo não escutar ninguém. Se não tiver certeza do que quer fazer e se deixar influenciar, está perdido.
AC: Estamos todos aqui nos 40 Forever…Você é vaidoso, tem medo de envelhecer? ( Com D. Lucília aos 102 anos e a mil por hora, duvido!) JE:Me sinto parte integrante do movimento 40 forever. Como vocês, também prentendo fincar o pé nos 40 e aqui permanecer. Uma coisa que aprendi com minha avó de 102 anos é não se fixar no passado. O negócio é o presente e o futuro.E ouso sugerir penalidades aos mentecaptos que ficam perguntando nossa idade, comentando que foram com a gente na Colombo de Copacabana ou viram conosco 2001 do Kubrick no Cine Coral do Flamengo. Esses infelizes não merecem fazer parte do 40 forever!