Estreou, neste fim-de-semana, a Casa Cor Rio 2012, com um elegantíssimo brunch para a imprensa, no sábado, e um coquetel para convidados, no domingo.
Para o grande público, ela abre na quarta próxima, ao meio dia e à noite, tem um jantar beneficente, também para convidados “en tenue de ville”, como diria a década de 50: renda revertida para o maravilhoso projeto Aquário Carioca do HEMORIO. Como vocês podem constatar, o ritmo social da maior mostra de decoração da cidade é frenético e com toda razão: a edição deste ano está bem montadíssima e absolutamente linda.
Divinamente instalada, no prédio principal de um conjunto arquitetônico construído para ser o HotelSete de Setembro, a construção virou, em seguida, a Escola de EnfermagemAnnaNery e depois Casa do Estudante Universitário. Em 2000, a Universidade federal do RJ, proprietária do imóvel, concebeu um projeto pra restaurá-lo, reintegrando-o à vida intelectual da cidade.
Espalhada numa área grandiosa de 5000 m2, o palacete tem pé direito altíssimo e janelões escancarados pro Pão de Açúcar. Na versão de 2012, a Casa Cor carioca expõe o trabalho de 85 arquitetos, decoradores e paisagistas que criaram 53 ambientes pra gente curtir.
Como já vimos muitas reportagens sobre eles, resolvi mostrar somente alguns poucos detalhes das maravilhas que encontrei por lá. Sortuda, visitei a CC na divina companhia de nossa “Blogueira por vários dias”, a amiga adorada Vivi Rocha: tomara que vocês gostem.
E não deixem de visitá-la, está valendo muito a pena, estas Patrícias são imbatíveis!BN
Convidei minha cunhada amada, Andréa de Magalhães Lins, para nos contar sobre sua sobrinha competentérrima, Betina Bethlem, e seu trabalho.
De quebra, a entrevista que Bettina fez com nosso mago da arquitetura, OSCARNIEMEYER.
AC
“Apresento a vocês a jovem e talentosa Betina Bethlem, que trabalha como gerente de projetos e como jornalista na Paddle8 em Nova Iorque. A Paddle8 é um site que oferece a colecionadores internacionais acesso a uma seleção de obras de arte das melhores galerias, fundações e feiras de arte no mundo!
Membros cadastrados na Paddle8 podem navegar o mercado de arte, se educar, e comprar obras de arte através do site.
Betina, que nasceu e foi criada nos Estados Unidos,( minha irmã e meu cunhado moram lá há anos onde ele trabalha), estudou literatura e história da arte na University of Pennsylvania, e começou sua carreira no MoMA em Nova Iorque, trabalhando com o curador de arte latino-americana. Anteriormente a Paddle8, também trabalhou no The Brooklyn Rail, e na Artnet.
A Paddle8 em parceria com a Visionaire, editora de arte e moda que produz revistas em formatos originais, homenageiam o Rio de Janeiro em sua edição Visionaire 62 Rio.
Betina escolheu o lendário arquiteto Oscar Niemeyer e obteve uma rara entrevista, publicada na Paddle8 como personalidade central da homenagem. Ele fala sobre seu amor pelo Brasil, seus desenhos, suas inspirações, suas viagens, seu uso revolucionário do concreto armado, e a importância da beleza e da invenção na arquitetura. Leia a transcrição da entrevista abaixo.
O projeto também inclui conteúdo adicional para comemorar o mestre arquiteto e a vibrante cena artística do Brasil. Além da entrevista exclusiva com Oscar Niemeyer, o projeto é acompanhado de 18 slides em 3D de algumas de suas principais obras e um estereoscópio para visualizá-los. A edição inclui também uma galeria de imagens de obras de arte de artistas brasileiros contemporâneos representados por galerias brasileiras, e fotos do artista e diretor criativo da Osklen, Oskar Metsavaht. Acesse o projeto aqui!
Você também pode comprar a Visionaire 62 Rio, os slides do Oscar Niemeyer, e as obras de arte através da paddle8.com
Entrevista com Oscar Niemeyer por Betina Bethlem:
BB: O que inspirou os seus desenhos?
ON: Eu quando era garoto gostava de desenhar. Eu lembro quando eu tinha uns 10 anos, eu ficava assim com o dedo no ar, desenhando. Não importava o que estava passando, eu estava sempre desenhando. O desenho sempre me provocou. E o desenho me levou a arquitetura.
BB: A sua família te ajudou?
ON: Eles concordaram. Foi tudo muito pessoal. Meu pai era comerciante de uma empresa de papel, e achava que isso era o que eu iria seguir. Mais eu tinha vontade de desenhar. Fazia retratos, e fazia desenhos, e ai acabei na arquitetura.
Eu também gosto de escrever, distrai né?
BB: O que o senhor gosta de escrever?
ON: Eu gosto de escrever sobre arquitetura, gosto de escrever sobre política. A literatura me provoca também. Eu gosto de escrever na revista que escrevo [Nosso Caminho]. Escrevi um livro também. A revista obriga a gente a ficar especulando os problemas da arquitetura. Tem dez números. A idéia é levar para os estudantes todos os assuntos, não apenas arquitetura, inclusive política. Nós mesmos trabalhamos, arranjamos e organizamos os textos. O que é distraído é fazer a revista, escolher o homenageado, a história dele, e depois como é que a arquitetura está marchando no tempo. Mostrar como tudo o que fazemos agora é especulado no concreto armado. Antigamente a arquitetura era feita com menos possibilidades de invenção. Hoje a arquitetura é invenção. Tem que estar de acordo com a estrutura, a gente pode especular com a escultura. A gente trabalha para instigar o concreto armado. Ajudando ele a evoluir também. Antigamente uma casa era uns tijolos no chão. Hoje você pode faze-la suspensa, numa maneira mais diferente. Eu fiz uma casa nos Estados Unidos recentemente. É uma casa que a pessoa se espanta um pouco. É tudo racional, tudo feito direito, tudo podendo usar o concreto armado em uma maneira inteligente. A arquitetura hoje é invenção. Não basta ser só racional, tem que ser bonita, e tem que mostrar que ela está baseada numa arquitetura rica em soluções.
BB: Quais são os problemas da arquitetura hoje em dia?
ON: O problema é utilizar o concreto armado em todas as suas possibilidades. Você pode fazer uma casa em cima de quatro colunas, ou você pode fazer uma casa em cima de uma coluna só – então isso mostra todas as possibilidades que o concreto armado oferece. Então para ser boa a arquitetura, ela tem que exprimir bem o processo do concreto armado. Se não, é atrasado.
BB: Eu acho que a arquitetura do senhor dá a sensação de se estar em outro planeta, outra realidade.
ON: [Risada] É. Depende do caso. As vezes a gente gosta de fazer um projeto variando em torno de um elemento assim fundamental e de grande estatura e beleza. É bom… É bom fazer arquitetura assim, procurando a coisa diferente. Agora estou fazendo um estádio, estou pensando no estádio. É um estádio mais ou menos pré-fabricado, mais não é pré-fabricado. É feito a base do concreto, a cúpula. É uma cúpula gigante, uns 250 metros. Então essas obras assim diferentes que despertam meu interesse me dão a vontade de fazer arquitetura.
BB: O senhor passou uma boa páscoa?
ON: É, trabalhando. Trabalhando normalmente. As vezes a gente viaja aqui por perto do Rio, para outros estados. Já viajei longe também. Fui até Moscou, os Estados Unidos. Eu fiquei um mês nos Estados Unidos trabalhando normalmente na Organização das Nações Unidas. Depois eu vim pro Rio, e daí trabalhei na França alguns meses. Conheci a Alemanha, conheci Moscou, conheci a África. Eu tenho uma idéia do mundo já bem nítida. O mundo que é afinal, a luta dos pobres contra os ricos. Os pobres estão revoltados com a injustiça social e os ricos querem manter a evolução do dinheiro e do poder. Eu estou do lado dos pobres.
A arquitetura é uma coisa de pensamento. A arquitetura é uma coisa de fantasia. A arquitetura não e um negócio. Não é a técnica só – não e só subir com prédios ate 100 metros. A arquitetura é construir prédio bonito. A arquitetura pode criar um ambiente bom para se viver. No Brasil o acesso é difícil, a comida é difícil. Nem só para brasileiros, deve ser assim para os egípcios agora também. Essa pobreza cria muitos problemas.
BB: O senhor trabalhou com o Le Corbusier?
ON: Mais ou menos. Eu fiz o projeto da ONU. Eles escolheram o meu projeto, aí ficou aquela confusão. O Le Corbusier me chamou, pediu para mudar o lugar de uma igreja que eu tinha feito. E ele era o mestre, então logo eu concordei em trabalhar com ele no projeto inicial.
BB: E Brasília?
ON: Brasília tem coisas boas e coisas ruins. Ha muitos prédios bonitos. É uma cidade de pobres e ricos juntos. Tem zonas para gente com melhores condições, e tem as zonas mais pobres. Brasília tem defeitos e pecados como qualquer cidade, mas é uma cidade agradável.
A cidade depende do ambiente. Brasília não é bonita do jeito do Rio de Janeiro, com a natureza bonita como a do Rio de Janeiro. Seria muito mal arquiteto para estragar um lugar tão lindo, com suas praias e montanhas. Só os ignorantes perturbam a beleza natural das cidades.
Oba, hoje é um daqueles domingos abençoados, em que recebemos a iluminada visita da nossa embaixadora no mundo das artes, a curadora VandaKlabin.
Desta vez, seu assunto vem de uma linda cidade portuguesa, o Porto. Vanda esteve por lá, de férias, e nos conta sobre sua maravilhosa “Casa da Música”.BN
VANDA KLABIN: “Considerando-se o prédio como um volume sólido, do qual eliminamos as duas salas de concerto e todas as outras instalações públicas, criamos um bloco oco, que revela seu conteúdo, sem ser didático e, ao mesmo tempo, expõe a cidade. O prédio é ao mesmo tempo claro e misterioso – o diagrama torna-se uma aventura arquitetônica”, assim definiu o arquiteto Rem Koolhaas, ao conceituar sobre a sua obra.
A cidade do Porto, que segundo o poeta Luís de Camões, deu origem ao nome de Portugal, fica situada às margens do rio Douro e a atividade comercial que mais contribuiu para o seu desenvolvimento foi a produção do famoso e tradicional Vinho do Porto .
Em 2001, foi eleita a Capital Européia da Cultura e o seu centro histórico, hoje, é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. A partir de então, a cidade passou por uma profunda requalificação urbana e vários edifícios de arquitetura moderna foram construídos.
A Casa da Música foi o primeiro edifício construído para ser, exclusivamente, dedicado à música e concebida como parte integrante do projeto de renovação urbana e cultural da cidade do Porto. Através de um concurso internacional de arquitetura, a escolha recaiu sobre o arquiteto holandês Rem Koolhaas, que completou seus estudos em Londres e recebeu várias distinções importantes, como Pritzker Prize e o prêmio da União Européia Mies Van der Rohe, dos arquitetos britânicos.
Essa escolha talvez tenha surpreendido os espíritos mais conservadores e, por ser um projeto um tanto ousado, foi objeto de ácidas polêmicas por parte dos portugueses. As escavações foram iniciadas em 1999 e sua inauguração foi em abril de 2005. No dizer do poeta português FernandoPessoa: Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
O projeto arquitetônico foi concebido como uma sinfonia clássica, de linhas modernas, no formato de um poliedro irregular, uma linguagem simbólica de um diamante bruto. Construído em cimento branco, apresenta formas assimétricas em diversos planos, com 12 andares e graus esquinados nos seus ângulos. O conceito arquitetônico predominante é a transparência e apresenta colunas e vidros ondulantes como a música.
A Casa da Música contempla uma grande diversidade de genêros musicais, concertos, grupos de pesquisa e ações educativas, cujo fio conductor é Saber,Ouvir, Fazer, Criar. A entrada principal tem 30 metros de pé direito, uma bela escadaria de alumínio escovado, tetos de vidro, passarelas suspensas e abriga a bilheteria, a loja, o centro de documentação, a fonoteca, a videoteca e a biblioteca.
A Sala Guilhermina Suggia, nome de um violoncelista portuense, é a principal, dotada de excepcionais condições de acústica e apresenta um belo jogo de luzes, proporcionado pelas amplas zonas envidraçadas. O material utilizado foi o pinho nórdico, trazido da Finlândia, ideal para tratamento acústico e as cadeiras têm um design e um revestimento de veludo visando a equilibrar o som, de modo que se a sala estiver repleta ou vazia, a cadeira simula uma pessoa sentada.
O Pequeno Auditório é uma área polivalente, com capacidade para 300 lugares, caracterizada pelo uso da cor vermelha, como nos teatros barrocos italianos e sem cadeiras fixas. Possui uma infra-estrutura de som e luz pensada para servir às flexibilidades dos concertos programados e atividades educativas.
A Sala Cibernética tem condições sonoras especiais para apresentar projetos musicais experimentais, multimídias e novas tecnologias. O teto, em pirâmide, cria condições acústicas ideiais para a música amplificada.
O Foyer tem a particularidade de mostrar a cidade através de altas parede de vidros onduladas.
A Sala Vip é um espaço multifuncional, vocacionado para ocasiões cerimoniais. O arquiteto presta homenagem à azulejaria portuguesa, através de reproduções de painéis originais que se encontram instalados em diferentes espaços museológicos de Portugal e da Holanda.
O Terraço, no piso mais elevado do edifício, tem teto de vidro que abre para o céu e para a Rotunda da Boavista.
O Restaurante, ao lado do terraço, tem um ambiente cromático – painéis de cores variadas e abriga também um bar e um café-concerto.
É uma visita imprescindível para aqueles que estiverem de passagem pela cidade do Porto”. Vanda Klabin.
Melhor que todos os trabalhos de José Hue, que continuaremos a ver por aqui, é a sua casa: uma verdadeira caixinha de bom gosto, refinamento e beleza!!! Cada detalhe, cada canto pra onde se olha é uma jóia rara…Que prazer entrar lá e poder ficar olhando para tudo, prestando atenção e aprendendo. Educar o olhar com coisas belas faz muito bem pra alma!