BALANÇO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 POR CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO

Nosso BLOG, hoje, está pra lá de metido… Também pudera: recebe a ilustríssima visita do maior expert em análise de opinião pública da América Latina, o mega botafoguense e presidente do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), Carlos Augusto Montenegro, para fazer, em primeiríssima mão, um balanço das eleições municipais brasileiras de 2012. Aproveitem…

MP

 

CARLOS AUGUSTO MONTENEGRO:
“Terminadas as eleições municipais de 2012, começa a temporada de avaliações sobre quem perdeu, quem ganhou e, principalmente, como os resultados de 2012 vão impactar a disputa para a Presidência da República em 2014. Discute-se sobre a força dos partidos, sobre as lideranças políticas, sobre os erros e acertos das pesquisas eleitorais e outros acontecimentos das campanhas noticiados pela imprensa.

As pesquisas do IBOPE

A primeira avaliação que a imprensa e os políticos fazem diz respeito ao desempenho dos institutos de pesquisa, principalmente o do IBOPE, que hoje é sinônimo de pesquisa. No primeiro turno, o IBOPE Inteligência realizou mais de 400 estimativas de intenção de voto para prefeitos em 52 municípios entre os dias 5 e 7 de outubro e o índice de previsão correta foi de 95%. No segundo turno, apontou corretamente 98% dos votos em 80 estimativas de intenção de voto para prefeito realizadas em 32 municípios, de 26 a 28 de outubro.

O cálculo do acerto das pesquisas foi realizado comparando-se os resultados oficiais e os encontrados na última pesquisa do IBOPE para cada um dos candidatos. A soma dos desvios positivos (ou negativos) encontrados foi subtraída de 100%, obtendo-se, assim, o percentual de acerto.

O quadro abaixo mostra os índices de previsão correta nos municípios onde foram realizadas pesquisas de boca de urna, pois somente estas podem ser comparadas aos resultados oficiais das eleições.

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Ao contrário do que muitos imaginam, as eleições municipais são as mais difíceis, com cenários voláteis e suscetíveis a mudanças repentinas. Ainda assim, a avaliação dos resultados das pesquisas do IBOPE em cada cidade mostra que foram identificadas corretamente todas as tendências e movimentações que ocorreram durante as campanhas, mesmo em cenários complexos, onde houve muitas movimentações e disputas acirradas.

A agenda da imprensa

Nestas eleições ficou claro que a agenda do eleitor é uma e a da imprensa é outra. Os eleitores estão decidindo o seu voto cada vez mais tarde, na reta final da campanha. Acompanharam com distanciamento e desinteresse o período pré-eleição e o próprio início da campanha. Ou seja, seu interesse pela eleição não seguiu no mesmo ritmo do interesse da imprensa, que estava ávida pelo tema eleições, mesmo antes da campanha começar.

Muito se falou sobre o efeito que o julgamento do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, teria sobre os resultados das eleições. O eleitor deu o seu recado: estava mais interessado em resolver os problemas de sua cidade – tais como saúde, segurança pública, trânsito, transporte coletivo, creches, educação – e não foi influenciado pelo julgamento do mensalão.

Na verdade, esta questão foi julgada pela opinião pública no momento em que os fatos ocorreram. Hoje, o que se assiste é a formalização do processo, por isso não teve o efeito esperado no resultado das eleições.

 Os partidos políticos

Após a apuração dos votos, iniciou-se o cálculo das estatísticas sobre os partidos. Nesta eleição, o PT e o PSB foram os partidos que mais ganharam. O PT vai administrar a maior fatia do eleitorado brasileiro, principalmente pela conquista da capital paulista, enquanto  o PSB dobra de tamanho quando leva-se em conta a quantidade de munícipes administrados por prefeitos deste partido. Em contrapartida, o PMDB e o PSDB perderam em quantidade de municípios e de eleitores sob suas administrações.

Como a quantidade de partidos políticos no Brasil é grande, existem 30 ao todo, estes 4 partidos estão longe de alcançar alguma hegemonia individualmente, pois juntos conquistaram cerca de metade dos municípios brasileiros e fazem a gestão de cerca de 60% do eleitorado nacional, o que significa dizer que há um poder pulverizado, que exigirá contínuas alianças. Assim, conclui-se que ainda é muito cedo para traçar os cenários e as perspectivas políticas para 2014, apesar de existirem alguns indicadores consistentes que serão analisados a seguir.

Perspectivas para 2014

 A maioria absoluta do eleitorado brasileiro (62%) considera o governo da presidente Dilma Rousseff como ótimo ou bom, uma avaliação bastante positiva. Dilma foi eleita pelos eleitores de Lula, mas aos poucos foi conquistando aqueles que eram avessos ao PT, ganhando o espaço que antes era ocupado pelo PSDB.

Além disso, o crescimento econômico, embora em ritmo lento, ainda é bem avaliado pelo eleitor, pois ele tem facilidade de crédito, vive uma situação de pleno emprego e está com um pouco mais de dinheiro no bolso. O perfil econômico do brasileiro está mudando e para melhor, pois a população passa, neste momento, por uma mobilidade econômica. Não é, por enquanto, uma mobilidade social, pois para isto acontecer é preciso ampliar o acesso desta classe à educação de qualidade, cultura, lazer, etc. Hoje, o acesso ainda é restrito ao crédito e ao consumo imediato.

Em 23 anos de democracia, os brasileiros mudaram sua percepção sobre os principais problemas do país. Na época da redemocratização do Brasil, a dívida externa crescia muito e o consumidor perdia diariamente o seu poder de compra com o aumento dos preços e a inflação galopante. Desde então, alguns problemas ainda persistem, outros praticamente desapareceram e novos surgiram para tirar o sono dos brasileiros.

Pesquisas do IBOPE Inteligência mostram que no final década de 80, a grande preocupação dos brasileiros era mesmo a inflação. Hoje, o grande vilão é a área da saúde, que vem acompanhada da segurança pública, conforme pode ser observado no quadro abaixo.

Preocupações nacionais, ontem e hoje:

Preocupações nacionais:

Inflação
Saúde
Segurança Pública
Educação
Desemprego
Combate à corrupção
Habitação
Dívida Externa
Drogas

 1989

57
49 
15
41
39
20 
15
24

 2010

4
66
42
31
29
15 
9

29

A dívida externa, que era uma preocupação importante, hoje já não faz mais parte da lista de problemas do Brasil. Em contrapartida, as drogas não faziam parte do repertório de preocupações dos brasileiros e atualmente são vistas como um problema que demanda solução imediata. Outras questões foram amenizadas, tais como desemprego, educação e habitação e, apesar das constantes notícias sobre o assunto, o combate à corrupção também preocupa menos o brasileiro. Uma razão para essa queda talvez seja o fato da imprensa divulgar mais o assunto, que tem sido tratado de forma mais aberta e transparente, já que hoje é possível assistir à cassação de políticos e até ao julgamento do mensalão.

Ainda existem muitos problemas a serem resolvidos e reformas a serem implementadas, como a tributária, a trabalhista e a política, mas não há como negar a melhora econômica da população. Assim, o que se espera para 2014 é que o país continue avançando.

Este é o cenário do momento. Daqui até as eleições presidenciais de 2014 teremos que acompanhar a evolução das tendências da opinião pública, uma vez que cada eleição é uma eleição e por isso não é possível fazer projeções para o futuro.”

Carlos Augusto Montenegro, Presidente do Grupo IBOPE

 

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