Simone Mazzei é Fisioterapeuta e Gerontóloga titulada pela SBGG (Sociedade Brasilelira de Geriatria e Gerontologia) e tem uma equipe de profissionais que desenvolvem estratégias de prevenção de doenças e promoção de saúde na Rede Adventista Silvestre e na UERJ. Convidei Simone hoje para nos falar sobre um tema que achei muito interessante: “como envelhecer com qualidade”
MP
“Seguindo uma tendência mundial, estamos em um país que envelhece a galope, o número de nascimentos está abaixo da média ideal para ser manter a população ativa e produtiva. Só poderemos mudar um pouco este triste prognóstico se contextualizarmos a população quanto ao envelhecimento ativo. Previnir e postergar a incapacidade funcional dos idosos, mantê-los produtivos, tanto física como intelectualmente, por mais tempo é uma das estratégias de preparar a sociedade para lidar com o problema.
O aumento do número de anos vividos é uma das maiores conquistas da humanidade, mas, se for realizada uma enquete será quase unanime a opinião, que estes anos a mais vividos só valem à pena se forem vividos com qualidade de vida. A boa funcionalidade ou capacidade funcional é apontada entre os idosos, e em diversas publicações científica, como um dos maiores indicadores de saúde e consequentemente de qualidade de vida, devido ao fato de estar altamente associada à autonomia e independência. As afirmativas anteriores fazem sentido ao refletirmos sobre alguns questionamentos , por vezes, inerentes à esta camada etária:
Porque viver mais se não posso viajar?
Porque viver mais se não posso ajudar meus filhos com seus afazeres?
Porque viver mais se não consigo curtir meus hobbies, sair com meus amigos e/ou fazer coisas que me interessam?
Porque viver mais se dependo e dou trabalho à todos?
Ou seja, hoje o melhor indicador de saúde geral do idoso é a capacidade funcional.
Me lembro de uma cena de um filme que foi um marco de reflexão para minha vida profissional, Fred e Elsa. A protagonista tinha uma doença renal grave, fazia hemodiálise, mas conseguia dar conta de sua própria rotina ( ia dirigindo para as sessões de hemodiálise) sozinha, se divertia e modificou a vida de seu vizinho viúvo recente e taciturno.
Assim, idosos ativos são aqueles que tem consciência das limitações impostas pelo envelhecimento, mas, contudo, desenvolvem estratégias e recursos pessoais (independência) que os tornam capazes de manter o controle ativo sobre suas proprias vidas (autonomia).
O conceito de autonomia e independência são altamente relacionados com a capacidade de decisão, planejamento e execução das atividades de vida diária. A capacidade mental de organização de idéias e de rotinas próprias do dia a dia são diretamente influenciadas por problemas de memória. Por exemplo: O gerência dos pagamentos dos empregados de uma casa, fazer uma lista de compras, marcar uma consulta médica, tomar seus próprios remédios, preparo de refeições, viagens e etc. Além da memória, outros domínios cognitivos e motores estão relacionados com incapacidade funcional, como função, executiva, função motora e equilíbrio, entre outros.
Portanto, estratégias que potencialize a mémoria e outras funções cognitivas estão fortemente relacionadas a manutenção da capacidade funcional e a prevenção de desfecho adversos entre idosos.
Para estimular a memória é necessário otimizar a função cerebral como um todo, hoje se sabe que exercícios direcionados apenas para a memória não são tão eficazes como se pensava.
Os neurônios estão em constante movimento e reorganização. Estímulos para determinada área específica podem afetar e melhorar o desempenho de áreas motoras, áreas relacionadas à sentimentos e comportamento e vice e versa. É reconhecido que quando estamos estressados temos dificuldade de concentração e nossa memória fica prejudicada! O emocional afeta tanto o desempenho intelectual como o motor. Tudo está interligado.
Mas como melhorar o desempenho cognitivo e manter capacidade funcional?
1) Faça uma atividade intelectual que nunca fez. Por exemplo: Aprender uma nova língua
2) Desenvolva habilidades motoras como equilíbrio, coordenação, respiração. Ou seja, faça aulas de ioga e se dedique a se concentrar no processo respiratório ou tente aprender a pintar, tricotar ou bordar!
3) Fortaleça sua musculatura corporal. Estudos mostram que a demanda metábolica gerada pelo aumento da musculatura, incrementa a vascularização cerebral, gerando uma melhora da função cognitiva.
4) Dê atenção especial à alimentação, pesquise sobre alimentos que protejam o sistema nervoso central e especialmente a memória.
5) Desenvolva seus cinco sentidos, atividades motoras associadas à música, aromas, paladares, visão e tato são altamente recomendadas por realizarem a chamada dupla tarefa, estimulam o Sistema nervoso duplamente, na parte motora e sensorial.
6) Curta a natureza, a beleza, os amores, seja feliz! Sentimentos bons e tranquilidade geram bem estar e melhoram o desempenho cognitivo e motor.
7) Mantenha-se em constante movimento, movimento é vivacidade e melhora o humor.
A única certeza que temos na vida, o ponto em comum é a terminalidade. Mas como queremos chegar neste ponto? O caminho do sucesso nesta tarefa parece estar intimamente ligado em nunca esmorecer ou desistir de VIVER!
Viver como jovens de coração que somos, dentro de nossas limitações, e com a certeza de que cumprirmos com nosso dever para mantermos uma boa saúde!”