Convidei minha queridissima amiga Andrea de Andrade Ramos para nos contar um pouco de suas andanças pelo Sudeste Asiático onde morou 7 anos. Ela morou na Malásia, na China e atualmente mora na Tailândia, onde está fazendo um incrível livro sobre fotografías, e mandou para nosso blog com uma SUPER exclusividade algumas páginas de seu livro, que certamente será um sucesso :”Crônicas de viagem em cartões postais”.MP
O mapa abaixo é apenas para uma localizada !
” Mianmar é um país mágico e sedutor. Conhecido e admirado pelos europeus desde os tempos em que era colônia britânica, inspirou poetas e escritores como Somerset Maughan, George Orwell e Rudyard Kipling. E agora ganha as primeiras páginas dos jornais internacionais com as recentes eleições, o início de uma abertura politica até então impensável, onde o premio Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi (pronuncia-se San Su Tchi, foto abaixo) surge como uma possível promessa para o futuro politico do país. O porque de tanto encantamento tem várias explicações. Há alguns meses atrás, sentada ao lado do recém chegado embaixador alemão, em um jantar de boas vindas na nossa embaixada, ouvi dele a seguinte frase: “Myanmar is sexy…”. Na verdade o que ele quis dizer e que Mianmar tem um appeal especial para europeus e americanos. E grande parte dele deriva da figura doce, mas ao mesmo tempo corajosa e obstinada, de San Suu Kyi. “The Lady”, como é chamada pelos birmaneses, esta sempre elegantemente vestida na simplicidade do traje típico e flor na cabeça. Sua moldura frágil e o sorriso tímido escondem uma personalidade forte e corajosa.Lá e cá estamos sempre a cata de heróis que nos tragam esperança de tempos melhores, e vençam, por nós, os desafios de um mundo desigual e injusto. E o espirito inquebrantável dessa mulher, filha de um herói da Independência, o general Aug San, segue inspirando os corações de birmaneses, e de toda uma gama de admiradores fora do pais, na luta pela liberdade e igualdade de direitos. Após 15 anos de prisão doméstica, longe dos filhos, ela reaparece com a mesma tenacidade de antes, rompendo o silêncio dos anos de chumbo da ditadura militar. Conseguira ela unificar e reerguer o país a gloria de tempos passados? O tempo dirá. Até lá só podemos cruzar os dedos e torcer para que ela saia vitoriosa.
A parte a simbologia do momento, Burma (nome original do país), tem um sem fim de encantos. As paisagens são deslubrantes e a cultura ancestral permanece intacta no dia-a-dia das cidades. Homens e mulheres usam saias, aqui conhecidos como longyis, e muitos, crianças inclusive, tem o rosto coberto por tanaka, uma máscara branca que protege a pele dos efeitos indesejados dos raios do sol. Mianmar e uma viagem no espaço e no tempo, pois parece congelada no seculo XIX. Isso dá um sabor único ao país, pois permite visitar um universo urbano que não existe mais. Templos e monastérios estão tal qual como quando foram construídos. E budas de todos os tamanhos, em alabastro, pedra, madeira,gesso, abundam. Os mercados são abarrotados de artesanato, pérolas e pedras preciosas. Mas não se iludam, os preços das pedras são os mesmos do mercado internacional. Não se esqueçam que os chineses são vizinhos e, ao enriquecerem, aumentaram a demanda encarecendo a oferta. A laca birmanesa e a melhor que existe, é belíssima, superando a chinesa em qualidade. E os guarda-sois em tecido colorido, pintados a mão, são um souvenir inesquecível.
O roteiro de viagem comeca por Yangon, capital do pais. O Bogyoke Market é visita obrigatória, assim como a Shwedagon Pagoda (no final da tarde aproveitando a temperatura mais amena). As cúpulas desse templo-monumento são cobertas por algumas toneladas de folhas de ouro e no topo da torre maior estão guardados mais de 5 mil diamantes, alguns milhares de rubis, safiras e outras pedras. Além disso, mil e tantos sinos de ouro e, coroando todo esse arsenal, um diamante de 76 quilates! Nada disso pode ser visto ou tocado. Mas certamente os números dão asas a imaginação e fazem um contraste marcante com a pobreza e a miséria dos que estão a rezar, embaixo. Os fiéis são muitos e em vários momentos vê-se uma procissão deles com meninos, carregados ao colo ou no ombro dos pais, vestidos de amarelo e dourado, com os rostos cobertos por tanaka; olhos e bocas pintados. A procissão é parte do ritual de iniciação para aqueles que irão ingressar no monastério, ainda na primeira infância, para um longo período de educação nos preceitos budistas.
Mandalay é a capital cultural do país e alguns templos e mosteiros importantes estão nos arredores. O teatro de marionetes é imperdível. Os bonecos estão vestidos nos trajes típicos e representam personagens do folclore local. E as músicas são tocadas por uma orquestra onde os integrantes estão em calças bufantes e turbante na cabeca. Inle é a região onde está o lago de mesmo nome e nele os pescadores remam com o pé, segurando a rede com as mãos. Incrível! A paisagem é silenciosa e tranquilizante. Ainda ao redor de Mandalay estão as cidades Ava, Amarapura e Mingun. Nesta última encontra-se o pagode Hsinbyume, todo pintado de branco, com os muros dos corredores em ondulações. Foi construido pelo rei Bagydaw em homenagem a sua esposa favorita. Uma espécie de Taj Mahal local. Em Amarapura uma vista ao monastério local permite testemunhar, logo pela manhã, a procissão de dezenas de monges enfileirados, segurando suas combucas de ferro, a busca de alimento. Esse é um dos maiores monastérios do pais, chegando, por vezes, a abrigar 3 mil monges.
E por fim a imperdivel Bagan, onde fica a planície de mais de dois mil templos e pagodes. Se o tempo for curto, essa é a única cidade que não se pode deixar de ver, pois e a cereja do bolo. Mas eu não sacrificaria o resto. Mianmar é mais do que budas, templos e pagodes. A paisagem humana é que oferece o que há de mais rico no pais. As construções históricas são meros edifícios de pedra sem a cultura e a fé daqueles que as ergueram. A mistura de raças, os trajes, as cores, a comida, a escrita em letras que mais parecem uma sucessão de círculos e vírgulas, os mercados, a religião e seu sincretismo com crenças animistas, os meios de transporte mais loucos e improvisados, tudo isso, faz desse lugar uma experiência mágica. E ao chegar lá você só precisa dizer mingalaba (a saudação local). E logo um sorriso se abre e você é carregado no colo desse povo adorável e gentil.”
FOTOS POR ANDREA de ANDRADE RAMOS.