Cada mês o nosso sensacional professor Manoel Thomaz Carneiro se supera. Cada texto é melhor que o outro, e sempre fala de um tema atual de nossas vidas. Suas aulas são poços de sabedoria inesgotáveis, sempre acrescentando harmonia e felicidade para nossas almas e vidas cotidianas.
Reflexões a Céu Aberto
A cidade do Rio de Janeiro está tomada pela OIR – Outras Ideias Para o Rio -, pelas instalações de arte que conversam ludicamente com as paisagens urbanas e naturais: Arpoador; Enseada de Botafogo (foto abaixo) ; Cinelândia; Arcos da Lapa; topos dos edifícios do Centro; Madureira e outros tantos locais.
Quando li as intenções e as bases de inspiração de alguns desses artistas e de outro que expõe no CCBB, me reportei aos meus conhecimentos que definem as dimensões das pessoas quanto às habilidades necessárias para viver.
Se realizarmos uma visita a algumas que estão a Céu Aberto, obedecendo a uma sequência definida por critérios psicológicos, podemos através destas obras pensar a vida humana desde a sua sensação de encurralamento até a emancipação e conquista de habilidade para se viver no mundo real.
Na Cinelândia, foi instalado um labirinto do artista americano Robert Morris e nele encontramos a metáfora de uma pessoa encurralada, acreditando-se sem saída (foto acima). Quantas vezes ouço ao longo de minha vida profissional a fala da dor que é sempre originária da sensação de aprisionamento e da falta de conhecimento possibilitador da visão de melhores perspectivas.
Toda vez que uma pessoa se sente de alguma forma pressionada e sem perspectivas de saída, ela está num labirinto, caminhando sem encontrar o fio de Ariadne: aquele que atua como condutor e que permite seguir de modo mais apaziguado os caminhos da vida.
Labirintos, é claro, não sinalizam saídas, a não ser que tenhamos encontrado o seu segredo e então desvendado suas encruzilhadas.
Quando estou diante de uma pessoa que se vê desorientada, sei, como psicanalista, que o labirinto dela, semelhante a da instalação na Cinelândia, é feito de vidro… mas ela não enxerga devido aos limites erguidos através de paradigmas redutores que balizam sua reflexão sobre si mesma.
Muitos se colocam num aprisionamento perpétuo, confinados em seus complexos, em suas dores, em suas mágoas… tudo tristemente mantido.
Quando ampliamos nossos conhecimentos, criamos um espectro maior de modos de reagir e viver… desenrolamos o fio de Ariadne e então os conteúdos do refletir são alterados. Quantas vezes ouvimos uma pessoa dizer – “É tão simples. Como não vi antes?”
Já na praia de Botafogo temos a escultura flutuante do espanhol Jaume Plensa. A obra de 12 metros, chamada Awilda, representa a cabeça de uma menina, que sai da água como se fosse o emergir de uma nova estrutura pensante.
Água em psicanálise representa desejo e ali temos a simbolização de desejos renascidos, que brotam pela ampliação de novos saberes que tornam uma pessoa mais sabida de si, da vida e dos outros.
Aquela enorme cabeça está ali no meio da cidade para nos lembrar que na nossa vida cotidiana temos que pensar grande, pensar com inteligência.
Pensar todo mundo pensa, mas quantos pensam corretamente?
Sem uma grande cabeça pensante nos tornamos reféns da força da gravidade e tombamos por não criar em nós a força de oposição. Como afirmou Freud, o sofrimento é uma questão quantitativa. Força dos acontecimentos deve ser vivida com força de resistência.
Uma lei da Natureza: A maior força vence.
Saindo desta segunda visita reflexiva, podemos conhecer o pensamento do artista plástico Antony Gormley. No livro sobre sua obra, ele nos fala que suas criações expostas no CCBB e no topo de alguns edifícios do Centro do Rio, têm como base inspiradora a sua ideia que o que promove dignidade ao ser humano é a tentativa de se manter na verticalidade diante da premente horizontalidade.
Para estas esculturas, Gormley moldou o seu corpo e instalou suas criações verticais nas beiras dos topos dos edifícios. Alguns estão caindo. Outros estão como os vencedores da vida: a beira do precipício, mas sem cair.
O que os segura?
Está invisível aos olhos do desatento, mas para aqueles que expandiram a compreensão, percebem que na vida humana as cordas parecem invisíveis, mas estão presentes segurando cada um de nós.
Boas certezas, metas, curiosidade no viver, capacidade de criar ilhas de prazer em meio às dificuldades são cordas mantenedoras de nossa verticalidade moral e psicológica. Uma de nossas mãos pode segurar a dor, mas a outra deve segurar nossos bons ideais.
Quando uma mão tiver ocupada segurando a magoa ou a tristeza, a outra, a sua mão direita, deve estar agarrada a alguma coisa que mantenha você de pé.
Quando estiver se sentindo num labirinto, sem saída, faça emergir seu novo destino através de uma enorme cabeça pensante e se mantenha erguida como as esculturas de Gormley.
Quando estiver sem saída, pense neste OIR, nestas reflexões a céu aberto. Pense que quando você estiver lendo a vida de um modo, mude, leia de outro, como de OIR o que você poderá ler? A leitura inversa sempre revela algo.
Manoel Thomaz Carneiro