Volta ao BLOG, pra nossa alegria, uma colaboradora muito especial, sempre com um assunto interessantíssimo como o de hoje: Richard Serra e sua Seven, a escultura, não o jeans…
E ninguém melhor pra falar sobre um dos meus escultores preferidos do que sua amiga de longas datas e parceira de trabalho, Vanda Klabin, nossa blogueira chiquérrima! BN
VANDA KLABIN:
“Richard Serra é um dos artistas atuantes no cenário da cultura contemporânea. Sua obra tem aspectos e escala industrial: são esculturas de grande porte e tonelagem, produzidas em aço-corten oxidado , sempre com aparência de total instabilidade.
.A trama urbana é o seu principal campo de experiência. O seu processo de trabalho é distanciado da situação de confinamento de um ateliê e expandiu-se para a área pública, realizando obras de grande dimensões, inseridas no contexto do cotidiano urbano ou dentro de recintos arquitetônicos.
A escala de monumentalidade, elaborada em cooperação com uma equipe de engenheiros, nos canteiros navais ou siderúrgicos, reinvindica, pelo peso e força do seu impacto físico, um espaço exclusivo e condições próprias de observação.
Richard Serra nasceu em São Francisco e, após ter passado alguns anos na Europa, se estabelece em Nova York, em1966. Sua obra tem origem nas discussões dos artistas minimalistas e realiza os seus primeiros trabalhos utilizando ainda materiais flexíveis, como borracha e chumbo líquido, um conjunto de questões que já apontam para a dissolução do objeto escultórico. Seu percurso vai incluir construções instáveis, elementos combinados de modo a criar estruturas de equilíbrio precário, que alteram a experiência perceptiva do espectador.
Em novembro de 1997, na qualidade de diretora do Centro de Arte Hélio Oiticica, fiz o convite ao artista para ocupar as galerias da instituição, no Rio de Janeiro. Richard Serra instalou seus desenhos negros monocromáticos com “paintstick”, concebidos exclusivamente para aquele espaço arquitetônico, intitulado RioRounds. A instalação dessas superfícies negras requer uma complexa tomada de decisões que deriva de um experiência direta do espaço, ao mesmo tempo ativando-o e alterando a nossa experiência perceptiva.
A sua primeira escultura pública, no Oriente Médio, foi instalada no MIA PARK, em Doha, no Catar, em janeiro de 2012 . Seven é uma escultura monumental, composta de 7 placas de aço, pesando 670 toneladas, com 24,40m de altura x 2,4m de largura x 10 cm de espessura. A construção levou um ano e consumiu um milhão de homens/hora.
A escultura foi colocada num ponto da esplanada de Doha, antigo porto de embarque de containers . Ela parece flutuar no mar e fica próxima ao Museu de Arte Islâmica, projetado pelo arquiteto IM Pei. As superfícies assimétricas de aço se sobrepõem, criando abstrações de texturas e sombras
Serra explica o processo criativo atrás da escultura 7: A minha fonte principal de inspiração foi o minarete Ghanzi, no Afeganistão. Fiquei muito interessado nos minaretes islâmicos. Eu os estudei, da Espanha até o Iemêm. Os minaretes têm formas redondas. O minarete de Ghanzi é o único que se desenvolve de maneira planar. Eu pensei que isso poderia combinar com a minha ideia para uma escultura. No meu entender, há muitas referencias no Corão ao número 7. O número 7 também tem relevância para uma importante descoberta feita pelo grande matemático e astrônomo persa, Abu Sahl al-Quhi. Arquimedes introduziu o conceito do heptágono regular na geometria, que ficou inexplorada durante séculos. Também foi Abu Sahl que provou que um heptágono regular pode ser construído como forma geométrica.
Quem tiver a oportunidade de visitar o Catar, não deixe de incluir esse belíssimo complexo cultural e apreciar a gigantesca escultura 7.” VK
Vanda Klabin
Historiadora de arte e curadora
Setembro de 2012