Quem nunca cultivou, na infância, o sonho da casa própria em cima daquela manqueira de estimação, bem no fundo do quintal da casa de campo da avó preferida? Era quase certo ela transformar em fantástica realidade, nosso desejo de sermos os “Tarzan & Jane” tropicais: as queridas davam a vida pra nos ver felizes, não é verdade?
No meu caso era impossível, já que a minha vó Elisa morava num simpático apartamento, no coração de Ipanema… Mesmo assim, vi materializar-se minha porção Jane numa inesquecível casinha, em cima da árvore mais frondosa da fazenda de minha tia, também Elisa, no interior de São Paulo: As estrelas nunca nos deixam na mão.
Até hoje guardo, vivíssimas, as lembranças do medo terrível que sentia nas noites passadas naquele lugar mágico, invariavelmente transportada pela minha fértil imaginação, para os confins de um reino improvável, construído com a minúcia dos detalhes mais perigosos que aprendia, durante o dia, nos filmes e livros prediletos.
Dormir era o de menos quando chegava, a minha vez, no rodízio de candidatos para pernoitar na nossa selva imaginária. Já subia apavorada por seres terríveis que brotavam, sem parar, da minha pequena cabeça de menina assombrada. Íam de cobras voadoras a fantasmas nada camaradas, passando por terríveis morcegos, estes verdadeiros e frequentadores assíduos das frutas do pomar onde pousava aquela casinha minúscula, feita de madeira e sonho das crianças que nela brincaram.
Hoje, tento achar uma explicação que justifique ter feito toda questão de passar tanto medo velado: acreditem, nunca tive coragem de contar, para meus companheiros de farra e férias, o quão me era doloroso fazer parte daquela aventura noturna… Dar bandeira não faz parte da cartilha dos pequenos!
Lembrei destas bobagens ao me deparar, dia destes, com a fotografia de uma casa nas árvores. Fui juntando à outras que apareceram e montei este post para, quem sabe, inspirar alguma de vocês, mães, tias e avós amantíssimas que, mesmo contemporâneas, continuam com um pé no mundo da fantasia… Já os meus, nunca os tirei de lá! BN