Volta a visitar nosso BLOG, minha “sobrinha” especialista em assuntos incríveis, Cleuci de Oliveira, para nos contar mais uma de suas fantásticas descobertas… hoje na seara das artes plásticas. BN
SOBRE OS MESTRES DA PRÉ-HISTÓRIA: Por Cleuci Oliveira!
“Pablo Picasso, durante visita às cavernas francesas de “Lascaux”, em 1940, quando viu, pela primeira vez, as magníficas pinturas pré-históricas que adornam suas paredes, há mais de 17.000 mil anos, exclamou: “Não inventamos nada!”
Ele ficou impressionado não só com o realismo e sofisticação das pinturas, mas também com certos detalhes que lhe pareciam comunicar idéias modernas e também surrealistas! Picasso, estarrecido, chegou à conclusão de que ele e os outros grande artistas do século XX, não estavam criando nada de original.
Se Picasso ainda estivesse vivo, em 1994, durante a grande descoberta da caverna de “Chauvet” também na França, ficaria ainda mais perplexo, com as pinturas lá encontradas! A caverna possui o que arqueólogos e historiadores da arte concordam serem os exemplos mais avançados da expressão artística, da pré-história. Naturalmente, imaginaram que as pinturas teriam sido produzidas, posteriormente, às de “Lascaux”.
Qual não foi a surpresa, quando os testes do carbono14 revelaram que as pinturas teriam entre 30.000 a 32.000 anos, ou seja, quase o dobro da idade das de “Lascaux”. Alguns ficaram tão chocados com esta descoberta, que exigiram mais testes. O arqueólogo Paul Pettit, da Universidade de Sheffield, comentou que “os resultados eram tão surpreendentes quanto achar uma pintura renascentista, em uma ruína do império romano”.
A exclamação de Picasso de que não inventamos nada, nunca teve mais ressonâcia, do que 2012: há menos de um mês, pesquisadores anunciaram que pinturas dentro da caverna de Nerja, perto de Málaga, na Espanha (já publicamos um post sobre o passeio à Nerja), foram também pesquisadas e datadas, e têm entre 42.300 a 43.500 anos! O que torna este achado impressionante é o fato de que nossos antepassados humanos, em tese, só alcançaram a “Península Ibérica”, muitos milênios depois.
As pinturas, portanto, só podem ser atribuídas, aos homens de Neandertal, que povoaram o oeste europeu, muito antes de nós, humanos. Ou seja, como Picasso remarcou, nós humanos não inventamos nada, nem mesmo as artes plásticas.
Este achado não é, nada menos, que revolucionário, pois a comunidade científica por muito tempo supôs que a espécie humana, apesar de ter parentesco com a espécie neandertal (tivemos um antepassado em comum, há mais de 500.000 anos, mas ao longo dos milênios, viramos espécies bastantes distintas), éramos os avançados e eles mais primitivos.
A enorme sensibilidade artística dos primeiros humanos, como pode ser comprovada nas grutas de “Lascaux” e “Chauvet”, era tida como uma prova da nossa superioridade. Numa matéria feita pela “Time Magazine”, em 2006, por exemplo, o autor descreve as pinturas das grutas de “Lascaux” como “evidência do enorme avanço em conecções neurais, que desembocou no desenvolvimento do atributo, unicamente humano, que chamamos de consciência.” As gravuras de autoria neandertal, portanto, põem abaixo esta suposição.
E tem mais: outros estudos recentes comprovam que neandertais tingiam conchas, para criar colares, e até chegaram a usar maquiagem! Os pigmentos usados por eles para decorar o rosto, tinha um aspecto cintilante, como “glitter”! Bem, ninguém disse se eles não eram bregas, mas “fashion”, não restou dúvidas.
De fato, vários dogmas sobre os neandertais têm sido refutados, em pesquisas recentes. Cada nova descoberta mostra o quão eles eram similares aos nossos antepassados e, por esta razão, tinham tanto para dar certo, como espécie, quanto nós. Infelizmente, foram extintos, há mais ou menos 30.000 anos, e ninguém sabe o motivo. Por que será, então, que nós conseguimos chegar aos dias de hoje, e eles não? Teria sido, somente, sorte?
Deixando estas questões existenciais de lado, é ótimo saber que apesar dos problemas de conservação, as autoridades francesas e espanholas acharam soluções criativas para os turistas poderem visitar estas cavernas, de alguma maneira.
Para o complexo de cavernas de “Lascaux”, hoje aberto à visitação somente a arqueólogos e afins, fez-se uma réplica exata, de dois dos corredores mais impressionantes. Eles são abertos ao público e ficam a menos de 200 metros da caverna original. Chamam-se “Lascaux II” e é um ótimo programa para a família.
Já a caverna de “Chauvet” não pode ser acessada por leigos como nós, e nem tem um plano B, como “Lascaux. Mas isso não quer dizer que a bela área não vale uma visita: a caverna fica situada nas chapadas ao redor do rio Ardèche, ao lado da maravilhosa ponte natural Pont d’Arc.
Um leigo que, felizmente, conseguiu acesso à caverna de “Chauvet”, recentemente, foi o incrível cineasta, Werner Herzog, para ambientar o seu “Cave of Forgotten Dreams”. Werzog filmou em 3D para mostrar como os artistas pré-históricos aproveitavam as curvas nas paredes cavernosas, para ‘encorpar’ seus desenhos. Incrível!
Por fim, a “Cuevas de “Nerja”, a 5 minutos de Málaga, é aberta ao publico, o ano inteiro (as pinturas neandertais estão em uma área restrita e by appointment). Aí, as formações rochosas são uma super atração turística imperdivel. Mais informações podem ser encontradas no site http://www.cuevadenerja.es/, que também tem secção em inglês.
Durante os meses de verão, a caverna central de Nerja se transforma em uma lugar de espetáculos, apresentando varias performances de ballet, dança flamenca, música clássica e ópera, entre outras.
Um must go!” Cleuci de Oliveira