Quando saiu a lista da revista inglesa, “Restaurant”, com os 50 melhores restaurantes do mundo em 2013, reparei que meu velho conhecido, The Fat Duck, havia despencado vertiginosamente, saindo do décimo terceiro lugar em 2012, para trigésimo terceiro este ano. Lembrei ainda, das três gloriosas estrelas que detém e que o consagraram, no bombado Guia Michelin, e fiquei intrigada: estas listas…
Como ia passar uns dias em Londres, resolvi ir tirar minha prova dos 9 e fui à encantadora cidade de Bray, Berkshire, almoçar, sob a batuta de Heston Blumenthal, seu glorioso chef, e antecipo: tudo continua como dantes, no Castelo d’Abrantes.
Faço uma pequena pausa para resumir o craque, Blumenthal. Tudo começou na vida deste “auto didata” do 4 bocas quando, aos 15 anos, numa viagem à França, com os pais, teve seu primeiro contato com o mundo da gastronomia almoçando no “L’Ouest de Baumanière”, na Provence: foi “love at first bite”…
Seguiu em frente até virar um dos principais alquimistas da culinária mundial, resultado de muita mão na massa e ousadia suprema: com pouquíssima experiência abriu seu primeiro restaurante, justamente o The Fat Duck, em 1995, como um bistrô francês e que, rapidamente, evoluiu para a moderna cozinha molecular, de Ferran Adria. Para mantê-lo, quase quebrou, chegando a vender tudo que tinha. Só arribou quando ganhou sua primeira estrela Michelin, em 1999. Daí em diante, foram só alegrias: 2004 recebe a terceira estrela e em 2005 o título de “Melhor Restaurante do Mundo”, dado pela revista inglesa, “Restaurant”.
Segunda pausa: para meu susto: como só trigésimo terceiro?! … Cheguei à uma modesta conclusão: quem sabe a criativa cozinha molecular, depois de tantas pirotecnias, esteja numa “entre safra”; já ganhou o mundo e está entronizada na alta gastronomia mundial. Mas ainda não é vintage, ou melhor, clássica. E, por isto, o Fat Duck esteja num momento “last season”… Como a qualidade de sua mesa continua a mesma, é só uma questão de tempo. O importante é que continuamos comendo, como reis, neste charmoso restaurante.
Instalado numa construção do século XVI, ele acolhe com louvor 13 mesas, 42 funcionários e o mérito de ser um dos grandes representantes da alta gastronomia inglesa. Tem cardápio fixo, em torno de 15 pratos, alta tecnologia, muita imaginação e magia, e bebe na fonte da cozinha “tecno emocional”, como Blumenthal gosta de chamar. Combinação de técnicas culinárias e truques, ele admite: “o perigo é a tecnologia ultrapassar o valor do prato”. Entre tudo de divino que comi por lá, “Sound of The Sea” é sempre a sensação: todos os sentidos alinhados, em ode ao paladar.
Próxima ida à Londres, agende este programaço que é o ” The Fat Duck” e cumpra o conselho de seu estrelado chef: “It should be about having fun”… Vá nessa que é bom à beça! BN
TERMINO COM A “EXIBIÇÃO” DE UM DOS PRATOS MAIS INCRÍVEIS E SUA HISTORINHA…
O “Fat Duck” também é cultura: por exemplo, este consomé, servido em partes, traz consigo um ritual e conecções históricas e literárias. Chama-se “Mad Hatter’s Tea Party” e mistura uma receita inglesa do século XIX, de “Falsa Sopa de Tartaruga” um must da época, com referências literárias do chá do “Chapeleiro Maluco”, personagem do clássico dos clássicos, “Alice no País das Maravilhas”.
Sua discrição:
– Mock Turtle Soup: Mock = objeto programado que simulam o compotamento de outro. Assim, miolos de leitão dublavam a tartaruga, em sopas no século XIX, porque o preço do réptil era proibitivo, então. Como hoje é também proibido o consumo, o “Fat Duck” usou o mesmo artifício em sua receita.
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– Pocket Watch: Referência à Alice no País das maravilhas e o relógio do coelho apressado que pergunta, no chá da rainha, para Alice e o Chapeleiro: já viram um “mock turtle”? Como Alice não sabe que bicho é este, a rainha se encarrega: é a “coisa”da qual é feita a “Mock Turtle Soup”…
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– Toast Sandwich: Delícia os mini sanduichinhos, do chá da Alice, com o consomé, di-vi-no… Vejam nas fotos!
CONTATO:
HIGH STREE, BRAY, BERKSHIRE SL62 AQ
TEL: +44 01628 580333