Martha Medeiros

23/08/2011

Martha Medeiros fala sobre relação com leitores e as crônicas do novo livro

Por Carolina Marquis
Feliz por nada, Martha Medeiros, virou bestseller e está há cinco semanas na lista de mais vendidos da Revista Veja.
Em entrevista exclusiva, Martha conta como os textos que compõem o livro foram escolhidos, qual a sua crônica favorita e os insólitos convites que já recebeu. A autora conta, ainda, sobre sua “caixa preta”, o lugarzinho onde guarda todas as sementes de ideias que poderão virar crônicas, poesias ou romances. Entrevista imperdível!
L&PM Editores – Como fazer para que assuntos do cotidiano, que você aborda nas suas crônicas, se tornem perenes e possam ser lidos em qualquer época?Martha Medeiros – Algumas acabam ficando datadas, não tem jeito, principalmente aquelas em que eu cito nomes de pessoas. Quem vai lembrar da Geisy (que foi expulsa da faculdade por usar minissaia)? Já é passado. Pra tentar amenizar isso, uso esses casos pontuais apenas como gancho para refletir sobre assuntos mais abrangentes, no caso: superexposição na mídia, a desvalorização da privacidade, etc. De um pequeno fato, procuro buscar uma reflexão maior.
L&PM – Como você fez a seleção das crônicas de “Feliz por Nada”?Martha – Reli tudo o que publiquei a partir da última crônica do “Doidas e Santas”, que foi minha última coletânea, lançada em 2008. Muita coisa ficou de fora. Procuro selecionar aquelas que gosto mais e que tiveram boa repercussão com os leitores.
L&PM – Você anota ideias de crônica em algum caderno que carrega na bolsa ou conta somente com a sua memória? Martha – Tenho um caderno que é minha “caixa preta” – aliás, por acaso a capa dele é mesmo preta. Ali anoto frases soltas, resumos de matérias de jornal, transcrevo trechos que li em livros, é uma espécie de arquivo de ideias, mas muitas não são aproveitadas. Na hora de transformá-las em crônicas é que vou descobrir se o material rende ou não rende. Mas é importante manter esse arquivo. O caderno não está na bolsa, e sim no meu escritório em casa, onde passo a maior parte do tempo.
L&PM – Você já escreveu poesia e romances. Mas é possível dizer que em algumas de suas crônicas também há poesia e romance? Martha – Em algumas delas, sim. Dependendo do assunto da crônica e do tom que desejo imprimir, às vezes me atrevo a ser mais poética, mas não é uma decisão que ocorra antes de escrever, e sim durante a escrita, conforme o tema se desenvolve e se abre para a interferência do gênero.
L&PM – Como surgiu a expressão “Feliz por nada”?Martha – Numa troca de e-mails com minha melhor amiga. Perguntei como ela estava e ela respondeu: “Sabe aqueles dias em que se está feliz por nada”? Achei a expressão muito iluminada, solar, e acabei escrevendo uma crônica a respeito, que está incluída nessa nova coletânea.
L&PM – Você tem uma crônica preferida deste livro?Martha – Gosto de todas, mas se fosse citar uma, destacaria a crônica que encerra o livro, “O amor, um anseio”. O texto é um atrevimento meu: procuro interpretar uma frase do Jung. Percebi que o resultado havia sido satisfatório ao receber diversos e-mails de psicanalistas avalizando a minha análise. Não tenho nenhuma formação psicanalítica, mas gosto tanto do assunto que vibro quando acerto.
L&PM – Você costuma escrever na primeira pessoa, isso com certeza aproxima você dos leitores. Eles costumam tratar “a Martha” como amiga quando a encontram no supermercado, por exemplo?Martha – Nos encontros na rua, em supermercados ou restaurantes, todos me tratam com muito respeito e carinho, sem invasão. Por e-mail é que o pessoal se solta mais. Não é incomum as pessoas me chamarem para jantar nas suas casas, convidar para um churrasco… Imagino o susto que levariam se eu aceitasse! (rsrs) Uma vez um cara me escreveu do Rio dizendo que gostaria de me dar de presente de aniversário para sua mulher! O quê? Ele explicou que me pagaria passagem e hotel apenas para que jantasse com os dois no dia do aniversário dela. Tem cada uma… Agradeço, acho graça, mas não dá pra confundir as coisas.
L&PM – Você foi considerada uma das 100 personalidades mais influentes de 2010. Isso não daria uma crônica?Martha – Uma crônica muito exibida, né? Autopromoção demais pode ser um tiro pela culatra.
L&PM – Qual o segredo para ser “Feliz por nada”?Martha – Não pensar muito nisso e tratar de viver, fazendo o melhor que a gente pode, sem ficar se cobrando desumanamente.
No dia 9 de setembro, Martha autografa Feliz por nada na Livraria Saraiva do Leblon, no Rio de Janeiro. No dia 10 de setembro, às 17h, a escritora participa de um bate-papo com Cissa Guimarães na Bienal do Livro do RJ.
Reprodução autorizada,
AC
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