Ai vai mais uma crônica maravilhosa sobre o amor, escrita pelo meu querido mestre e professor Manoel Thomaz Carneiro . A mãe de um de meus melhores amigos, Marie Helène de Rothschild, sempre teve esta teoria de que AMAMOS amar o amor! Ela me falou isso quando eu tinha 16 anos e nunca mais me esqueci. Quem não ama amar o amor? Não é um deleite?
MP
“AMAR O AMOR”
Hoje em dia quando acontece sinto um grande prazer, mas confesso que bem há uns vinte anos atrás, não sabia lidar muito bem com isso: quando era apresentado num jantar ou em outro evento – “Este é o Manoel que comentei, professor e psicanalista” – Esta era a frase mágica para que logo, logo, alguém contasse um caso para que eu pudesse analisar, condenar ou absolver o protagonista da história. A implícita expectativa do meu parecer me fazia me sentir diante da Esfinge da Mitologia Grega, com o narrador tendo inscrito em sua testa “Decifra-me ou Devoro-te”. Hoje acho graça do que sentia e quando alguém começa eu abro um sorriso para mim mesmo me lembrando desse momento.
Recentemente estava num jantar e quando se descobriu qual era a minha profissão, me lançaram um novo enigma – “Estou lendo o romance – Cinquenta tons de cinza” e tem um momento em que Ana se pergunta por que estava amando Christian Gray. Manoel, é possível saber o porquê estamos amando alguém? É possível fazer com que este amor não acabe?”
Lembrei-me da atriz americana Mae West que teve seu auge nas décadas de 30 e 40, que tem uma frase que virou até imã de geladeira “Ame teu próximo e, se ele for alto, moreno e bonitão, será mais fácil ainda.” e se estivesse viva, quem sabe acrescentaria… “e se for parecido com Mr. Gray dos cinquenta tons, será mais fácil ainda!”
É impossível decifrar totalmente o enigma implícito no amor, mas além de sentir a sua presença ou a sua ausência em nós, podemos sabe-lo um pouco mais.
Quando amamos algo, fazemos um esforço para encontrar um espaço para ele na nossa vida. Quantas vezes ficamos rodando pela casa com o objeto na mão, tentando a todo custo coloca-lo em algum bom lugar. Guarda-lo nem pensar!
Daí, já podemos tirar uma conclusão – Quando amamos, sabemos buscar um modo para inclui-lo num espaço na nossa vida.
Penso também que quando nos amamos, igualmente sabemos procurar um espaço para si mesmo em meio ao cotidiano congestionado de coisas a fazer.
Portanto…. Quando estamos diante de alguém que começa a não fazer muita questão de encontrar um lugar para nós na vida dele – se não houver algo concreto impedindo – Alerta! O amor está sendo abandonado.
Quando você perde a mão em manter preservado um espaço para as atividades que dão prazer a si, você também esta renunciando ao seu amor por si mesmo.
Como afirma a psicanálise, o amor é uma busca que nos põe em busca. Busca de que? Do bem. Por isso, como chamamos nosso amor? Meu Bem… Nesta ideia está uma grande lição sobre o amor: para que você continue amando é importante encontrar sempre um bem na pessoa, em si mesmo ou numa atividade da sua vida. Quando não se renova o olhar em relação ao amado, acaba-se deixando o amor ficar encoberto pelo abandono.
Um objeto na estante a mercê do tempo empalidece pela poeira. Largado pela displicência, o seu brilho e a sua forma desaparecem, semelhante às longas relações que se desbotam pelo descuido no olhar.
Sem o brilho do bem, amor algum permanece.
O Amor de Tufão pela Carminha foi também tema deste jantar.
O personagem Tufão da novela Avenida Brasil, amava Carminha apesar de não gostar de muitas atitudes dela, como por exemplo, o desleixo como mãe e suas histerias. Algumas coisas nela eram como pratos amargos que afetavam o gosto, mas ainda assim ele encontrava em si, através do seu desejo de permanência, razões para ama-la. É o Leleco, seu pai, numa função simbólica de olho protetor, que se empenha visceralmente, em desvendar a verdadeira faceta vilã e assim, Tufão pousa o seu olhar para o mau naquela em que ele projetou sua vida e construiu seu amor.
O que restou? Trabalhar em seu interior a triste, mas necessária desconstrução do amor... Para que isso pudesse acontecer, o que testemunhamos? A desistência do amor por ela. Podemos assistir, nestes momentos finais, Tufão perfazendo o caminho inverso à construção do seu amor, pois este sentimento pode até sobreviver às amarguras, mas ao destrato e ao mau, ele deve desaparecer. Não devemos chamar de amor as relações de maus tratos… Aí o que encontramos é o desamor em todos os seus aspectos.
Podemos dizer que a arte imita a vida e neste folhetim, dentre tantas abordagens, uma ressalta: não devemos desperdiçar nossa existência num caminho em que não há um verdadeiro bem para se amar.
Em cinquenta tons, Ana ama em Gray as boas perspectivas, numa história que se funda no início em mero encontro de corpos e que se desdobra na revelação do nascimento do amor.
Depois que o amor surge, seja um bom mantenedor.
Para que o amor não seja devorado, desvende como na mitologia seus mistérios.
Clarice Lispector tem uma frase que diz – “Todos os dias quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor…”
Como em Clarice, ame o amor e ao acordar, vá correndo retirar as poeiras dos hábitos que se instalam no amor ao outro, vá também correndo tirar a poeira do seu coração, para que seja uma pessoa enamorada da sua existência e consiga chamar sua vida de Meu Bem.
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